Dysfemismo

Saturday, October 27, 2007

A Dialética Quântica (A Dialética por trás do Segredo)

A arte retro-lógica da persuasão das massas iluminadas pelos métodos herméticos ligados à lei da atração parece a mim uma perfeita demonstração de dialética quântica.

Um belo exemplo de como isso poderia funcionar - que facilita o entendimento da questão e me poupa de excessiva minúcia explicativa - é minha frequentemente citada “Teoria do Alce Invisível”. Ela consiste em imaginar uma incontestabilidade da vida e explicá-la através da presença de diversos alces invisíveis. Tomemos o aquecimento global: é a típica estatística sem causa científica implicada imediatamente, comumente utilizada na argumentação quântica. Constata-se que o aquecimento global existe, e, como surge em nós um gap causal, é só falar com jeitinho que o Alce Invisível parecerá perfeitamente razoável.

Não sou Iniciado da Dialética Quântica, e, portanto, minha explicação não soará tão convincente; no entanto, creio que ficará claro o ponto: O aquecimento global, cuja causa nos é imperceptível imediatamente (somente seus efeitos – os ursos polares chorando e cidades naufragando), pode ser explicado pela existência de alces invisíveis que absorvem, irradiam e multiplicam a potencialidade bruta do Sol ao lado da, digamos, poluição.

É muito importante abraçar explicações já presentes no imaginário de seu público ao lado de seu Alce Invisível para torná-lo mais aceitável. Comece a explicação com a obviedade incontestável, ou com a estatística, coloque suas inconseqüências lógicas floreadas por gestos e figuras de linguagem acolhedoras ao seu público e finalize enfatizando a incontestabilidade óbvia. Se a audiência for de pretensos cientistas, coloque super-cordas no meio; se for de cristãos, coloque a alma e o livre-arbítrio. E por aí vai. É importante que suas colocações sempre resultem em implicações adoráveis ao gosto dos seu público; não necessariamente as premissas, mas as conclusões devem ser bonitas e de acordo com o que seu target inventaria pra acreditar por si mesmo se estivesse, por exemplo, sob efeito de LSD.

A ênfase em certos termos ‘indefiníveis’ - com toda a justificativa implicada de sua indefinibilidade como sustentação final de cada explicação - é outro recurso muito importante da retro-lógica quântica. Quanto mais infalsificável melhor para tornar-se pilar de sustentação de sua pseudo-constatação. Como Berkeley nos disse há certo tempo, não é só por não termos idéia da substância do espírito que podemos concluir por sua inexistência.

Verdade por Infalseabilidade.

Verdade por impalpabilidade

Verdade por absurdo.

- Filme recomendado: O Segredo por Trás do Segredo (O Segredo para os já Iniciados; é um longo debate aberto a perguntas orientado por uma iluminada senhora de exímias habilidades semióticas de persuasão. Com ela neste filme, o leitor poderá observar a dialética de que falo em sua forma mais bem acabada no cinema).

Tuesday, October 23, 2007

O Amor da Minha Vida

Novamente, tenho vergonha de pertencer à vossa ignominiosa espécie.

O thaumadzein foi enterrado com o supra-sensível; Só resta o Horror.


O que eu pediria, no entando, para o Djinn cartesiano (o Genio da Lampada criador de universos perceptivos falsos) é muito simples:

Eu queria fugir com você - o amor da minha vida - para o lado de fora da Caverna. Para o Mundo das Idéias.

Ficar deitado na Areia, contemplando as Ondas, O Bom, O Belo e O Justo.

Fariamos, então, Amor - com A maiúsculo. O Amor em si mesmo.

Ainda que fosse só uma vez.

Ainda que não fosse.

Sunday, October 21, 2007

A Diabólica Lei Maria da Penha

Tive, hoje, o desprazer de bater os olhos no Jornal. Fora estirado no chão da varanda, provavelmente por um dos membros de minha família. Diz aqui que um Juiz, Edílson Rumbelsperger Rodrigues, considerou a Lei Maria da Penha contrária à Constituição; e reiterou o conhecimento incontestável que tem a humanidade a respeito da “desgraça humana” (em seus termos): começa no Éden e é devida à alma diabólica da mulher (e possivelmente à ingenuidade e tolice masculinas). Para o Juiz, “o mundo é masculino”.

Não tenho nada a declarar, na verdade. Espantar-me-ia que algo fosse feito contra o sujeito; na pior das hipóteses, reprimendas do ínfimo resquício de bom senso restante à opinião pública.

No entanto, soube de fontes confiáveis a pena mais adequada a este tipo de vilipêndio.

Este homem deveria ter seus direitos de cidadania perpetuamente suspensos, deveria ser sumaria e preventivamente preso, torturado, sodomizado por travestis fantasiados de macieiras e, por fim, castrado – para que seus genes não sejam perpetuados indiscriminadamente no pool genético da humanidade.

Tuesday, October 16, 2007

Disfonia Quântica

Resolvi que Apokatástasis Pánton será o nome da primeira parte e que a segunda parte terá outro nome. O projeto todo chamará Disfonia Quântica. Falta apenas a sétima parte do segundo texto para que eu finalize o segundo terço do projeto.

O trecho a seguir é um pedaço de um dos casos ainda não publicados do Dr. Voldo.


"O grande problema é que não existe nenhum tipo de autoridade policial lá. É território anarquista. Desde que a Polícia Civil foi comprada pela CMIS (Corporação Maligna do Império de Silício, dona de boa parte do mundo como conseqüência do boom de tecnologia) e a Polícia Militar pelo Sindicato dos Metalúrgicos, apenas o B.O.P.E trabalha de verdade. E o Caveirão não se importa com a escória – portanto, jamais viria a um lugar como o Mercado Voador.

O Mercado acontece mensalmente, e até hoje não houve uma vez em que não fosse dizimada mais da metade dos que por ali passaram, como decorrência dos diversos tumultos aleatórios e generalizados de acordo com a Lei da Briga Exponencial (segundo esta lei, nos ambientes ontologicamente incompatíveis com disposições de caráter virtuoso em que a masculinidade imperar, qualquer foco de tensão transformar-se-á em uma briga, e, toda briga, em caos generalizado – o que implica em incontáveis e dolorosas mortes para todos os lados envolvidos).

Como isto vem ocorrendo no Evento em questão há séculos, não há um presente que não esteja violentamente armado até os dentes, disposto a morrer levando numerosos contingentes consigo. É assim que morrem as vítimas inocentes: maior contagem de casualidades – e, portanto, mais honra e mais chance de entrar em Valhala – para cada um dos que sabem que morrerão.


Não havia porque esperar acontecer. Se Hegel pode virar Platão de Ponta cabeça e Marx pode virar Hegel de ponta cabeça, eu posso virar a Lei da Briga Exponencial pra o lado que eu quiser. Se eu começar matando todos os potenciais assassinos em massa, os potenciais covardes imperarão e as brigas cessarão ao invés de elevarem-se ao grau de Panticídio.

Eu sou tão surpreendente bom que até me surpreendo. Eu estou sempre certo.

Infelizmente, a realidade erra com certa freqüência.

Em vinte minutos, o lugar estava deserto. Alguns sobreviventes sobre as árvores, outros arrastando-se e mugindo como zumbis ruminantes; ninguém para interrogar.

Chequei meu score no Neo-Phone [a minha versão é razoavelmente antiga, mas ainda assim tem diversos features legais: contagem de assassinatos (frag), de foras, de punhetas batidas, baseados enrolados, cigarros fumados, etc. Toca as músicas que ele próprio produz no gerador aleatório de harmonias e ritmos, reconhece mídias ainda não inventadas e tem memória infinita.

E pensar que antes eles serviam pra fazer ligações telefônicas). O número estava alto. Alias, todos eles estavam. Esse negócio devia vir com ajuste de nível de dificuldade."

Tuesday, October 09, 2007

O Réquiem para Deus em Mi Menor

http://apokatastasispanton2.blogspot.com/
a segunda parte, ainda incompleta
Eis o projeto de abertura.


Estava divertindo-me com dois ou três casos ainda não resolvidos de minha pasta a priori quando uma horrífica e tenebrosa criatura entrou em meu escritório. Um ser humano.

- Doutor Voldo, como eu posso saber?

O verme me olhou nos olhos e uma gota de suor escorregou de sua testa até seu olho esquerdo. Era bonita a moça, olhando melhor. Decidi aceitar seu caso, mas não perderia muito de meu tempo com ele; típico casinho a priori, nada demais.

Mando um pouco de Descartes, explico pra ela o que é realidade formal e realidade objetiva; falo depois do Locke, de como ele não se importava com essas sutilezas metafísicas e de quão maravilhoso é o mundo liberal. Uma opção berkleyniana não seria mal também. Se ela me mandar escolher, eu conto pra ela da opção do jovem Werther.

Alguma coisa, porém, estava me incomodando. Fazia tempo já, inclusive, e estava piorando. Uma dor. Não sei bem. Cambaleei até a cozinha, a cólica me demolindo, quase indo ao chão; lembrei-me. Comida. Precisava sair numa incursão ao exterior para comprar comida.

Saí do meu escritório (meu humilde lar, na verdade) e atravessei o corredor. Sons fudroyantes e caóticos emanavam furiosamente por entre os vãos das portas dos outros apartamentos. Televisão, eles chamavam – uma caixinha de terror radioativo, e ainda reclamam do meu cigarro. Os animais tem acesso a 3 dígitos de canais diferentes e nem um centésimo deles é de pornografia. Digno de pena.

O supermercado decorreu suavemente. Entediado, e com alguns sacos de compras nas mãos, resolvi buscar casos à maneira cínica. Morder as pessoas nas ruas.

A reação dos cidadãos dessa patética colônia ao serem aporeticamente acometidos jamais poderia ser comparada a um parto.

A maiêutica se torna a arte de esculpir fezes, a técnica de exumar cadáveres e animar zumbis – quando não existe senão esterilidade, pois Deus e a fertilidade foram, há muito, enterrados.

A maior parte dos cidadãos comuns atira revistas de tiragem alta sobre mim quando tento interroga-los. Gritam ignomínias sobre minha pessoa e fogem para suas cavernas para ver televisão. Alguns tentam te convencer a comprar coisas – suponho que sejam contagiosos, pois os autóctones os evitam como pragas.

No entanto, alguns poucos acabam sendo convertidos; são estes que me pagam para fazer o que eu faço.

Detetive Voldo
Doutor em epistemologia

Saturday, October 06, 2007

Apokatástasis Pánton

http://apokatastasispanton.blogspot.com/

"Este primeiro texto que vos disponibilizo a seguir é a inauguração do cânone experimental da restrita vanguarda literária nacional auto-intitulada Gonzo-Hermeticismo. É o primeiro texto da compilação que leva o nome de Apokatástasis Pánton.

Ainda bruto, e talvez eternamente bruto; mais vulgar do que eu gostaria de admitir, mas está aí. Aprecio sugestões e comentários relativos a cada parte, e estou aberto a drásticas modificações.
Aos interessados, sugiro que utilizem o google ou a wikipedia (ainda que seja a em português)para descobrir os nomes dos personagens e eventos da narrativa em suas relações herméticas.".