Dysfemismo

Monday, August 27, 2007

Gênesis

Mais um trecho do Apokatástasis Pánton, que pretendo colocar disponível na internet em breve. Ainda penso seriamente em trocar o nome para Uma História de Amor, e deixar o Apokatástasis pra nome oficial da coletania de contos.

Para quem ficar interessado, isto é uma caótica dadaização cubista dos big bangs egípcio, nórdico, grego e herbaico.
Have fun.

3. Gênesis

B'reshit era o Caos. O belo nothingness da escuridão.

Então a noite de asas de breu e a Neblina Niflheim, no regaço do profundo e negro Érebo Musspell,
Pariu Eros, que é Logos.

De Eros, brota o grande Nun Gelado – o Nilo Primordial, Ginnungagap adormecido.
Tetragrammaton, apercebido deste fenômeno natural, verbaliza, de Nun, o Céu e a Terra. E uma vaca titânica.

Da Terra nasce Yggdrasil, e dela, os filhos de Osíris, Ask e Embla. Eles matam o Logos, e, com ele, enterram Jeovah e o Amor.

Da terra fertilizada por tais Cadáveres, e pelo suor gelado de Ymir, alimento de Audhumla, surge Midgard.

Lentamente, nasce uma Lótus Branca em meio ao caos da Nova Escuridão.
Dela emana, numinosa, a luz do Despertar.

Wednesday, August 22, 2007

Peculiaridades de nossa Magnífica Espécie

Uma das características mais maravilhosas de nossa esplêndida espécie é evidenciada pelo fato de que se descobrem uma coisa que não faz mal às outras pessoas mas pode fazer mal a você, ela é prontamente proibida (salvo os casos específicos dos acima-da-lei alcool e cigarro); por outro lado, se inventam armas que podem fazer muito mal a todos os outros mas que só farão mal a você se você for um completo retardado mental ou nas historinhas de criança-atrás-da-cortina, o máximo que fazem é restringir a posse.

Eu posso andar com sabres, katanas e uma colt se eu tiver um porte, mas nao há nenhuma situação em que eu possa injetar heroína sentado na frente de um policial enquanto ainda me restar bom senso.

Saturday, August 18, 2007

Apokatástasis Pantón

Com voces, o capítulo 0 de minha criação. Podem observar fortes referencias aos apocalipses dos evangélhos, Aleister Crowley, William S. Burroughs, H.P Lovecraft, etc. Virem-se.


Aviso ao Leitor:

A presente obra me foi ditada, segundo o princípio da retrocausalidade (post hoc ergo ante hoc), pelo meu próprio espírito. Não é, portanto, uma obra de causa em meu eu presente, pois constitui o efeito da obra causal na mente do meu corpo póstumo cujo espírito já fora liberto para ditar ao próprio corpo passado a presente obra.

0. Apokalypsi

Eis que, nada Acontece.

No decadente e resplandecente epítome de sua magnífica glória, os homens contemplaram seu auto-inculpável apocalipse quando a última gota de seiva tocou o chão e o último véu de seda elevou-se aos céus. We are not responsible. Steal anything in sight.

O hímen da Babilônia reconstituído por cirurgia plástica, Azazel capturado; Salvação, Glória, Honra e Poder, onde estão? Silêncio. O logos de crachá em sangue, com seu exército atrás, capitula.

Nenhuma trombeta falante, nem o anti-cristo: terremotos, raios, ciclones, o gelo e o fogo, Carvalhos e Pinheiros armados até os dentes, por fim, Quefas, o Soberbo, contemplou a ignobilizada e cientificizada população. Clamou em tal potência que não houve quem não escutasse:
- Pútridas e vis criaturas animadas, sofram a Fúria de Gaia! – sua voz tenebrosamente grave, dura, severa; tão rochosa quanto poderiam suportar e decodificar os ouvidos humanos.

Dez arautos sefiróticos reivindicam a terra para si: o putch de meggido. A humanidade, confinada em um espaço horizontal delimitado que se estendia desde profundezas subterrâneas até alturas estratosféricas, no território de Jerusalém (uma decisão considerada particularmente engraçada ao grupo armado de Carvalhos, que mal pôde conter o ébrio louvor vitorioso de seu ritual papavérico). Os Dez e seus homúnculos máquinovegetaicos garantiram a implementação de um sistema auto-sustentável de criogenia, indefinidamente perpetuável: cérebros ligados ao Inconsciente Coletivo, o Universo Perceptivo, um reflexo das profundezas inconscientes do computador supremo, Diane, Aur Ain Soph – a grande comedora de imagens, a multiplicadora de peixes: Da’at. Cada um torna-se o avatar de seu próprio Golem (emet em código de barras). A Vida eterna virtual, a nulificação máxima das distancias, a Última Aurora da civilização: nos forçada pelos piores e mais indignos orifícios imagináveis, abaixo. Infelix culpa.

Não há necessidade. Não há parâmetros. Não há restrição. Os resultados da auto-domesticação humana ecoam gregorianamente no abismo virtual a que nos condenamos; o retro-logos, em bits, brada: nothing is true, everything is permitted.

Tema, pois não sou o alfa nem o ômega, mas teu diem desmesuradamente carpado. São tantos os anjos com velas que mal se pode distingui-los entre os astros. Mas vejo melhor: é Cthulhu, o devorador de universos de possibilidade que preenche o vácuo entre eles (natura abhorret vacuum) e os equipara em Ser; Omnia vincit antropos, except Cthulhu. Desvendamos o arco-íris do Hlidskialf celeste e o mar de cristal secou com o logos. Amen.

Saturday, August 11, 2007

Welcome to Retardia

A tese é simples: a ciência torna os homens retardados. Idiotas, burros, pacóvios, néscios, hebécios, ignaros, paspácios, babaquaras. You name it. Um avanço tão descomedido da ciência tem como resultado tal parvoíce pelo simples fato de tornar seu conhecimento incomensuravelmente distante dos homens. Ninguém sabe fazer nada.

Nada do que mais usamos, fazemos ou desfrutamos é de nosso conhecimento. Se muito, um ou outro desses itens pode tornar-se conhecido, por exemplo, a um advogado bom que conhece todas as leis, ou a um engenheiro saidinho que conhece bem o funcionamento de carros, chuveiros, fogões e computadores, a uma psicóloga que entende bem como funcionamos, a um médico que sabe qual enzima que me falta, a um profissional de mídia que saiba qual propaganda que é dirigida pra mim e qual não é. Mas nenhum de nós passa um dia que seja em nossas vidas, em uma cidade, em que saiba o que está fazendo como um homem de conhecimento.

Isso, em linhas gerais, se dá pelo fato de que vivemos utilizando. Essa é nossas vidas, meus caros. Acordo e utilizo este item, depois aquele, depois aquele outro, depois o fogão e o chuveiro. Depois o carro, o telefone, a máquina de café, o cigarro, as vias, o sistema de transito, as leis de trânsito, o elevador, o cartão eletrônico (chave dos flats) e, finalmente, o remédio pra dor de cabeça. Isso sem contar o que deixamos de fazer por um motivo ou outro, que poderíamos ter feito conhecêssemos uma dessas coisas as quais a vida torna-se necessária por habito, quando se dá a difusão do avanço descomedido pela ciência.

O resultado nefasto disso é o de que em qualquer coisa que dá errado, precisamos de um especialista. Outros ligam para nós como especialista, e nós ligamos a muitos outros como especialistas. Isso quando não ligamos pra nosso mestre, mais especialista do que nós daquilo em que nos especializamos. Porque a vantagem da horizontalidade, é que ela funciona. A verticalidade, produz. Funciona como conseqüência, assim como também não funciona como conseqüência da incompetência geral.

E são todos palermas porque a ciência evoluiu demais. Pra ser mais preciso, as ciências e as artes (no sentido de: a ciência da engenharia e a arte de fazer carros).

É claro que uma engraçadinha marxista pode dizer que a causa última dessa idiotização é o sistema de produção, e não a ciência. Dirá-nos (Dir-nos-á, na verdade) que a ciência só evoluiu tão incontinentemente porque o sistema de produção assim a coagiu. O que tenho a dizer a ela é que a ciência é que evoluiu (simpaticamente ao sistema de produção, é claro) a ponto de nos habituar violentamente ao desconhecimento, à desciência do mundo, resultando na realidade em que o mais longe que se vai é perceber que a culpa é do sistema; Que nós não podemos fazer nada pra mudar isso, a não ser reclamar.

Ou, o que é pior, que tenhamos fé que faz diferença qual candidato será eleito, naquilo que é estrutural (crises, greves, abismo entre classes, corrupção, distanciamento entre eleitor e eleito, etc.) porque nos escapa a diferença entre estrutural e conjuntural. E isso, então, permite que um sistema tão lutuoso seja perpetuado ad eternum (o fim da história, de Fukuyama). Mas pode-se dizer, também, que é a ciência um braço extremamente eficiente do sistema de produção, que bota a coroa de ouros sobre o gordo Asno Quimérico.

Saturday, August 04, 2007

A Nova Renascença

Tomemos a Renascença original: morre a ciência aristotélica do senso comum, rainha da Europa desde que o mestre de Chalkidiki repreendeu seu próprio mestre por pecar pelo excesso de estudo das ciências matemáticas e geométricas e que só seria substituída na modernidade pela nova ciência arquimédica e galilêica (dando o trono de volta a Platão). O resultado para o populacho, para o vulgo, para todos aqueles que não eram mestres cientistas, foi a proliferação das ciências ocultas e não-científicas da magia. Sem a ciência do senso comum para fornecer-lhes respostas, resta-lhes somente o conforto do ad hoc ergo ante hoc.

Ora, a física moderna – que começa com galileu e termina com Einstein, encontra seu ocaso nas conseqüências do pós-relatividade: a interferência a distância do sujeito, Quem Somos Nós e O Segredo, a retrocausalidade e a aleatoriedade imprevisível influenciável pelo observador.

É assim que a pós-modernidade torna-se a Nova Renascença: na incerteza da ciência, não mais fundamentada pelo solapamento da antiga, mas pelo avanço descomedido da nova, que sincretiza, por fim, o conhecimento cientifico à magia negra. Qualquer opinião torna-se válida, qualquer comentário torna-se válido, qualquer meio para qualquer fim tornam-se válidos porque não há parâmetro. Se a ordem feudal foi do senso comum de Aristóteles e a moderna da geometria de Platão, a Pós-Modernidade é de Aiwass.

Entretanto, não posso deixar de destacar um caráter mais caótico da Nova Renascença: a primeira nos remete à Grécia Clássica, socrática, e sua base de sustentação, análoga a soteriologia estóica da Verdade, é o axioma cartesiano que prova a existencia de Deus para permitir o logos. Ela é cósmica. Por outro lado, a Nova Renascença é posterior à morte de deus, que, enterrando o logos, sopra a luz do Caos.



*Aiwass é a entidade hermética que ditou à Aleister Crowley o Thelema, inspirada, provavelmente, no Thelema de Rabelais em Gargântua e Pantagruel.