Dysfemismo

Monday, June 15, 2009

A Ordem Apocalíptica

O apocalipse, propriamente, não veio. Passamos tanto tempo professando-o, não sei. Talvez este tenha sido o problema. Os apocalipses primordiais foram escandalosos, repentinos, inevitáveis. Era como se todos os fatores conspirassem para que houvesse alguma revolução drástica. Nós, homens, éramos também fatores. Mas dessa vez, não como antes. Nosso fogo tornou-se uma compressa de água fria.

Foi como se a infinidade de anúncios da revolução tivesse minado a seriedade da possibilidade de qualquer uma; como se, na hora em que tudo tivesse de ter mudado por uma concatenação inevitável de fatores, esse fatores não estivessem lá, porque estavam presos no trânsito. E assim, o inevitável, a sublevação da ordem que havia, ao invés de ocorrer por meio de algo súbito num curto e perturbado espaço de tempo, acabou por ocorrer diante de nossos olhos, diluída, disfarçada, sob a própria carapaça.

Como se a presença deste inevitável tivesse se tornado tão próxima a nós, tão familiar, que tenha passado a fazer parte da própria ordem que havia. E que há: mas que, no entanto, não seria propriamente uma ordem, mas o próprio apocalipse que engendrou em seu seio e que a destituiu de seu status de ordem.

11 Comments:

  • Querido Rodrigo- também acho que estamos no seio do apocalipse porque às vezes me sinto na voragem do caos. Que bom que você está por perto, embora não responda nem a convite para almoço ou jantar. Mas eu sinto você por perto e, embora seja maluquice, isso é que importa. Naaaão! Importa que você me apareça em carne e osso.Abraço da Zuleica.

    By Blogger zuleica-poesia, At 6:39 AM  

  • acabei de ter uma visão apocalíptica. acabei de perceber que o meu quarto, que eu estou tão acostumado, é o meu fim!
    assim você acaba comigo...

    saudades!

    By Blogger Gui Ferrari, At 6:22 PM  

  • Embed apokalypsis ... gostei da idéia.

    By Blogger Flavio Ferrari, At 8:41 AM  

  • E tu fala da sociedade atual, suponho? Barbaridades nos jornais, na política, no consumo escancarado de crack e outras cositas más, do sexo desenfreado, da falta de cultura, de... Mil etc's. E tudo parece banal, e ninguém mais se mexe, porque o homem "lobo do próprio homem" está muito ocupado engendrando os próprios capítulos sob o título de corrupção. Apropriadamente vão..
    Um cafezinho, bom tema.

    By Blogger Carla P.S., At 9:21 AM  

  • Vim conhecer-te através da indicação do blog do Flávio (arguta).

    Li várias postagens. Polêmico e bom demais.

    Abç
    Rossana

    E.T.: O Apocalipse é aqui e toda hora.

    By Blogger Batom e poesias, At 2:38 PM  

  • Eu diria " no miolo" !Com toda a certeza!

    bjs

    By Blogger Suzana, At 3:49 PM  

  • Nós podemos usar as mesmas ideias, porém mudando o sentido delas.
    Concordo que o pior de tudo é a falta de ética, e com 90% do que disseste, exceto a parte que não foi o que eu quis dizer..
    Tu usaste o termo cultura empregado na antropologia, não na linguagem falada. Seria a mesma aberração que dizer que "fulano não tem personalidade" na psiquiatria, visto que todos temos.
    Nem todo jornalista é pretencioso, nem todo médico é charlatão-baseado-em-evidências mas, com certeza, a ética tá escassa!.

    By Blogger Carla P.S., At 9:08 AM  

  • Quanto ao sexo..Não sou fanática religiosa pois acho isso brochante, e a libido é o começo de tudo. Mas até chocolate em excesso não é bem aproveitado.

    By Blogger Carla P.S., At 9:09 AM  

  • Nem todos os jornalistas merecem a morte mesmo. Mas os que não merecem não farão falta alguma...

    By Anonymous Anonymous, At 10:24 AM  

  • se mudamos o sentido de uma idéia no meio de um discurso nada mais faz sentido, é inclusive uma falácia clássica chamada de 'anfibologia'.

    Mas conceitos como o de 'falta de personalidade' e 'falta de cultura' no 'sentido falado' não são propriamente conceitos, ou, se o são, são conceitos absolutamente obscuros: um conceito é o que permite ao entendimento unir diversos objetos, e ele é claro quando não há dúvida quanto a qual objeto cai sob ele e qual não cai.

    É ótimo e perfeitamente compreensível que pessoas gostem de ficar falando simplesmente por falar, porque somos animais sociais.

    E é mais normal ainda que essas conversas desprovidas de sentido além do próprio exercício da conversa (interação social) tratem de assuntos graves. E assim é super saudável ter termos voláteis e obscuros, ficamos interagindo inutilmente por horas e cumprindo nossa natureza sociável.

    No entanto, para distinguir, julgar (formular juízos, unir um sujeito a um predicado), declarar coisas não só por declará-las, mas defendendo um ponto, requer conceitos mais claros.

    E é por isso que eu prefiro a eles e não resisto quando alguém aparece no meu blog com um desses conceitos obscuros como se eu estivesse falando só pra brincar de falar.

    By Anonymous Anonymous, At 10:44 AM  

  • Desculpa se não levei suficientemente a sério teu blog, enquanto tu criava tão séria teoria. Mas sobre a falar o que eu quero e ser sarcástica, é, ainda tenho um pouco disso! Mas nem comento mais, eu já fujo dessa pandemia de "conceitos" que tanto nos rodeia, fortemente alicerçada com a hipocrisia e o orgulho...

    By Blogger Carla P.S., At 3:30 PM  

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