Dysfemismo

Monday, October 23, 2006

O Umbigo, a Merda e o Ventilador

Julgas, do alto de vosso imaculado pedestal, que és o mais inocente, casto, alabastrino, íntegro, virginal e virtuoso dos seres deste mundo; que todos aqueles que portam o órgão sexual diferente do teu são os mesmos obscenos, indecentes, ignominiosos e deploráveis infratores do santíssimo imperativo ético absoluto de dentro da sua excelentíssima imaginação metida a racional de animal-psíquico?

- Sim, são todos uns animais, uns cachorros - é o que você me diz sem me ouvir.

- Sim, todas, sem exceção, putas sem coração – é o que eu te respondo sem pensar.

Afinal de contas, porque outro plausível motivo, em todo relacionamento em que eu e você resolvemos nos meter, as coisas terminam, sempre, em uma pilha enorme, pútrida e pecaminosa de merda jogada no ventilador? E então o velho sábio da montanha cujo nome não ousaria reproduzir, responde:

- Será que não é você quem está jogando a merda no ventilador, e se achando o mais injustiçado dos seres porque algum tipo de força incontrolável, inefável, imprevisível e inextricável do universo estaria, supostamente, a espalhando [sim, a merda] segundo as aleatoriedades imprevisíveis da vida?

[versão ocidentalizada: Se tudo dá errado, deixa de ser kantiano(a) e coperniquiano(a), deixa de girar o mundo em volta de si e achar que todos os problemas que te acontecem são causados pelas intempéries do funcionamento psiquico dos outros e considere honestamente a possibilidade de voce estar fazendo alguma coisa que te leva inevitávelmente a um desfecho desagradável]

Wednesday, October 04, 2006

Excertos de: "O Fato Não Existe"

(...)

Nesse contexto, a noção de que não somos nós mesmos é perfeitamente cabível, clara e intrínseca à nossa condição: o que chamamos de nós mesmos é uma ilusão projetiva; não poderia dizer de que é esta ilusão projetiva porque dizer que o que acreditamos poder chamar de nós mesmos é, na verdade, uma ilusão projetiva de nós mesmos, seria afirmar que nós temos essência, alma, ou, se preferirem, um "em si" de nós mesmos.


(...)

Alias, nenhum de nós pode conceber o mundo sem o “em si”, apenas ter idéias a seu respeito, tão imperfeitas quanto as que temos de Deus. Justamente porque nosso mecanismo mental de identificação de objeto elege e estrutura um objeto de experiência psíquica como correspondente direto de um objeto em si– segundo, obviamente, determinadas condições mentais, parcialmente fixadas [assumindo que compactuo com a teoria de que o principal aspecto de nossa excepcionalidade biológica é o desenvolvimento hipercomplexo de uma multiplicidade de interconexões cerebrais que, elevadas ao presente grau, tornam-se intrinsecamente sujeitas à variações aleatórias devido à alta possibilidade de falência dos organismos biológicos]

(...)

Quando entramos em negação, não se trata de ilusão psíquica versus fato recém absorvido; trata-se de percepção mais confortável versus percepção mais lógica ou de maior concordância em determinado grupo de confrontadores. E o elemento em negação só o é segundo a perspectiva de seu interlocutor (ou grupo de interlocutores), que, como qualquer ser humano, identifica sua percepção como fato em si, organiza-a mentalmente como fato em si e a trata como fato em si; podendo obter a subscrição e a sustentação teórica de certo grupo para que concorde (por probabilidade de amostragem e de identificação lógica – embora nos seja claro que a própria lógica de concordância é falível e subjugável por nossos mecanismos psíquicos) que é o indivíduo confrontado que está em negação e não eles mesmos que o estão (afinal de contas, negação se caracteriza por relutância em concordar com determinada “verdade” atestada pela inefabilidade do saber psicanalítico). Quanto mais longe formos, mas claro nos fica: fato é algo absolutamente descartável para toda a filosofia que não se reivindica integralmente metafísica (embora fique extremamente difícil distinguir todo conhecimento, por mais científico que seja, da metafísica se identificamos que o mecanismo psíquico humano faz com que o sujeito trate o objeto de sua experiência psíquica como fato em si; e se qualquer juízo - sintético ou analítico - não pode ter nenhuma relação com a realidade a menos que a façamos girar em torno do sujeito, como o fez kant)"

Monday, October 02, 2006

Trabalho em Grupo

O exemplo clássico é o da construção de uma mesa: um primeiro individuo corta a madeira, um segundo é responsável por fazer os pés, outro faz o tampo, outro lixa as peças e um último monta a mesa.
As imperfeições analógicas desse exemplo ridículo são várias: é do interesse do contratante fazer grupos eficientes e demitir trabalhadores ineficientes; dificilmente o individuo número um, exímio lenhador, será demitido pela ineficiência do individuo número quatro, péssimo lixador – porque o superior imediato deles, o responsável pelo resultado da mesa, é o mais interessado em um bom trabalho de grupo. Afinal de contas, um trabalho mais rápido e mais eficiente, com menos custo, lhe trará mais bonificações junto a seu próprio superior. Por último, o salário do fazedor de pés raramente dependerá do construtor de tampos; a proporcionalidade produtiva só será um recurso de bonificação, eventualmente, do contratante e/ou do responsável pelo resultado final do trabalho.
No caso do trabalho em grupo escolar, o interesse no resultado final do trabalho varia entre os integrantes do grupo, mas pretende-se que formem um grupo de iguais. O péssimo trabalho de um dos integrantes destrói a reputação de outro: o “salário” (a nota) de cada um dos integrantes depende do trabalho de todos os outros. E, para o professor, é muito mais fácil corrigir 8 trabalhos do que 40.
Resulta disso o seguinte: é muito freqüente que determinado professor te coloque em situação de fazer uma mesa com um maneta, um retardado e dois cegos. Você terá de escolher, então, entre trabalhar por 5 ou entregar uma mesa que não sirva nem pra sentar.