Dysfemismo

Friday, June 29, 2007

O Acordo de Bom-Senso-Tácito

É de conhecimento absoluta e vulgarmente comum o fato de que, principalmente em um sistema de massificação e intensificação social, o choque entre gerações subseqüentes seja inevitável.
Infelizmente, os mecanismos psíquicos do desenvolvimento humano nas presentes condições civilizatórias impedem à maior parte dos indivíduos uma adaptação real-time satisfatória. É por esta razão que se torna impossível a paz absoluta entre o imaginário de diferentes gerações.

Contribui também, imensamente, nesta direção, o fato de que a atribuição automática e inexorável de autoridade paterna (no sentido plural que inclui tanto mãe quanto pai) implica em responsabilidade de formação de caráter.

Temos, portanto, o evento bélico de responsabilidade moral ultrapassada sobre um futuro incerto e caótico (na perspectiva da autoridade) contra uma vanguarda tão ou mais incerta de seus rumos – com a única inefável certeza (tanto empirica – “sabemos” em termos práticos que se fizermos exatamente o que nossos pais implícita e explicitamente nos impuserem seremos antiquados, infelizes e ativamente retrógrados – quanto em termos subjetivos “sentimo-nos” impelidos à contestação da autoridade – uma força propulsora do instinto progressista da psiquê civilizada – na fase consolidadora de caráter: o período de adolescência prolongado em que sua existência é inextricável economicamente da autoridade paterna).

A contra-partida é o bom-senso-tácito por parte da autoridade. A partir deste momento, trabalharei em um nível mais inconscientizado – que é mais conveniente e eficiente à propagação e manutenção da vida.

De forma implícita, eventualmente à própria autoridade, perpetua-se a noção subjetiva de que o limite prático é superficial e imagético: com tanto que a autoridade não tome conhecimento objetivo dos eventos e/ou práticas cotidianas que sua formação moral desaprovaria irrevogavelmente em sua prole (sem possibilidade de alteração por vias argumentativas da contra-parte hierarquicamente inferior), tudo corre bem.

E, embora aparentemente tosco, primitivo e superficial demais, essa característica foi perpetuada ao longo de gerações e gerações. Não entrarei na questão de se foi ela a principal responsável pelo mal-estar da civilização pós-moderna, mas partirei do princípio de que ela “funcionou”, simplesmente porque estamos aqui, vivendo, subvivendo, sobrevivendo e pós-vivendo, de forma absolutamente funcional para os parametros da própria autoridade global cristã-capitalista (protestante?).

A questão que nos resta é: como?

A minha resposta é relativamente simples: o amperímetro de ética pós-moderna é majoritariamente estético. As autoridades individuais funcionam como eficiente parâmetro global, de forma que se é possível que sua autoridade pessoal, extremamente próxima física e psiquicamente à existência do hierarquicamente inferior, ao longo do prolongado período de adolescência, desconheça as práticas repreensíveis, a seus valores individuais (harmônicos aos parâmetros globais – que, na ética estética da pós-modernidade constituem O Parâmetro), é perfeitamente concebível que aparentemente, sua existência não constitua em falha (conceito aristocrático, mas perfeitamente utilizável no sentido subjetivo do parâmetro da autoridade que órbita psiquicamente entre sucesso e falha para sua prole, analogamente aos parâmetros da seleção natural).

Saturday, June 23, 2007

Aparentemente o Segredo da vida masculina é sair do armário, fazer dezenas de amigas maravilhosas, e depois voltar pra dentro do armário e promover uma grande e prolongada orgia com todas elas.

Tuesday, June 19, 2007

A Legalização

Soube que a super-interessante e que a folha pronunciaram-se a respeito da legalização da Maconha. Não lí nenhum dos artigos, porque sou preconceituoso e acredito que tudo aquilo que tem como público um número significativo de leitores será, necessariamente, proporcional à capacidade intelectual e ao conhecimento destes leitores.Capital).

Considero duas possíveis esferas argumentativas no que diz respeito à legalização da maconha: uma objetiva e outra subjetiva.

1. subjetivamente, podemos dizer que maconha causa muito menos danos físicos e mentais do que o alcool, dizer que a proibição da maconha sustenta-se sobre bases morais e não médicas. Que a maconha só não foi legalizada pelos mesmos motivos que ilegalizam o suicídio, a eutanásia e o casamento incestuoso (desconsiderando a Argentina). Também pode-se dizer que é um absurdo anti-constitucional que o indivíduo não tenha direitos sobre o próprio corpo, e que crime sem vítima não deveria existir, e que só existe porque o a turma do John Locke inventou um tal de "acordo tácito" que faz com que todos nós que nascemos em um delimitado espaço de terra sejamos automaticamente propriedade da autoridade estatal. A moral capitalista, a moral protestante, funciona como uma pressão generalizada contra qualquer tipo de prática anti-produtiva, pois, como há tempo demais já enfatizaram muitos marxistas, o sistema funciona tendo como fim último o Capital e não a glória e o gozo da civilização.

2. Objetivamente, e é aí que eu entro, a questão torna-se glasnosticamente simples:

Como já inclusive salientei em outros textos, o uso de alteradores de consciencia ("drogas", no jargão popular) está inextricavelmente conectado à civilização.Não conheço sequer um individuo sensato que teria a coragem de afirmar que em breve a civilização não "precisará" mais de drogas, que o consumo diminuirá gradativamente e que, enfim, as drogas serão extintas.

Sabemos bem que o tráfico de maconha movimenta milhares, milhões. Sabemos que o uso vem crescendo, e que, concomitantemente, cresce o poder dos traficantes. Coincidentemente, estes traficantes estão ligados ao crime organizado. Coincidentemente, o crime organizado está cada vez mais poderoso, já que a verba adquirida pelo tráfico converte-se em armamento, em centralização, em controle, em poder. A verba do crime organizado é alexandrinamente superior à verba da polícia, portanto.

Clamam os cegos sartreanos da modernidade: "é o usuário que sustenta o tráfico, temos responsabilidade pelo poder do crime organizado".Se ilegalizarem o sexo, qualquer um que o trafique há de se tornar o rei do universo e eu quero ver quem é que vai ter a cara de pau de dizer que é o libidinoso que sustenta os poderes despóticos do rei do universo.

Quem sustena o tráfico é a proibição. Não se pode proibir algo que é incontrolável e intrínseco à civilização, a menos que as consequencias desta legalização sejam funestas à sociedade. E me parece que, no acso, é exatamente o contrário que ocorre.

Mas dizem alguns: "Se a maconha for legalizada, o crime organizado terá de se focar em outras atividades, como assaltos e sequestros".Sim, eu até posso concordar que por um breve período de ruptura, o crime aumente. Mas é estruturalmente inviável que o crime organizado se sustente por muito tempo sem o incoming exorbitante de dinheiro advindo do tráfico de drogas. Sem essa base financeira, o crime organizado deixa de ter possibilidade de organizar-se tao eficientemente - por que sem recursos, neste mundo, não se tem poder nem organização.

E isso não tem absolutamente nada a ver com usar ou não usar drogas, isso é problema do usuário, porque é crime sem vítima. E vítima de overdose de maconha não existe, mas existe coma alcoolico. Motorista alcoolizado há 150 km/h na Brasil existe, mas quero ver quem tem condições de fazer isso chapado. E ainda que se prove que a maconha seria tão nociva quanto o alcool ao funcionamento da civilização, o que fariam? ilegalizariam o alcool?

Já fizeram isso nos estados unidos, com a Dry Law, e , caso alguns de voces não se lembrem, foi o que sustentou a máfia. E, se não me engano, depois do fim desse absurdo, quem agora manda lá são os judeus, o que me parece bem mais saudável em termos de política interna (desconsiderando os infortúnios do abuso bélico sionista, que não dizem respeito a meus propósitos imediatos).

Desconheço argumentos contra a legalização que não sejam cristãos (Especialmente protestantes) e que não orbitem em torno de "o homem não precisa disso" (o que já foi provado como absurdo) e "a sociedade tornar-se-á mais improdutiva" (o que não foi provado, mas ainda que seja, jamais significaria uma queda da qualidade de vida objetiva do homem - apenas um regresso na lógica inefável do Deus Capital).


*1: eu não sou a veja nem a folha, e me recuso a colocar números e gráficos pra mastigar pra vocês o meu ponto de vista. Quem quiser, entre em www.google.com e descubra a estimativa de quantos milhões movimenta o tráfico de drogas nesse país.

*2: o que impossibilitou até então (e talvez continue a impossibilitar) a legalização da maconha são as possíveis represálias internacionais - já que os Paladinos da Guerra Contra as Drogas de Washington são os verdadeiros governantes do nosso país - e a dificuldade da aceitação interna que esta medida terá, de acordo com o progressivo e crescimento dos movimentos de rigidificação moral da população ignobilizada por falta de proteína e excesso de ditadura.

Friday, June 15, 2007

O Fim da Civilização

A progressiva libidinização da elite subseqüente à revolução sexual dos anos 60 implodiu os alicerces da civilização, que até então dicotomizava sua dimensão temporal, para desembocar em um pós-modernismo plurizado temporalmente mas teoricamente dicotomizado entre civilizados (os párias) e pós-civilizados (a elite).

Na civilização, o dever e o trabalho são temporalmente isolados dos rituais de liberação, de regressão aos estágios primitivos. Durante a semana, um cristão sério e comedido; durante o jogo do palmeiras e nas festividades noturnas, um animal descontrolado. A violência e a sexualidade (libido) são desconscientizadas pela imposição dos tabus, liberando-se premeditadamente nos estados de alteração, entorpecimento - desconscientização.

É então que a revolução sexual aplica o coupe de grâce na civilização, ao levar inevitavelmente à conscientização do que fora proibido. A conseqüência é uma nova e caótica fusão parcial entre o animal e o civilizado. Os tabus caem por terra, animalizando a vida civilizada: as substâncias utilizadas de forma ritualística para induzir ao estado primitivo são consumidas durante o estágio temporal de civilizado (o que é evidenciado, por exemplo, através do alto índice de alcoolismo); a esfera sexual, antes privada, torna-se pública (como nos deixa claro o poder da indústria pornográfica e suas possibilidades de divulgação); etc.

Concomitantemente, crescem em velocidade assombrosa os movimentos de intensificação da rigidez moral (como, por exemplo, o milagre evangélico que vem ocorrido no Brasil nos últimos anos) – como defesa do civilizado. Observa-se então a dicotomia pós-moderna: grande parte da sociedade defende-se como pode do apocalipse da civilização, enquanto uma elite esclareceu-se demasiadamente para permanecer civilizada. Aos olhos pós-civilizados, os civilizados tornam-se bárbaros cegos por seus ridículos ideais morais, incapazes de perceberem que não são seus próprios super-egos; aos civilizados, os pós-civilizados são inescrutabilizados pela sua rigidificação moral: são simplesmente errados.

Essa dicotomia, porém, é teórica. Na prática, observa-se o caos de todos os estágios intermediários entre o civilizado decadente e o pós-civilizado ainda não consolidado.




(rascunho, não revisado. Carece de qualquer sustentabilidade bibliográfica pois emergiu abiogeneticamente das profundezas de minhas teorizações internas. Aceito sugestões bibliográficas)

Monday, June 11, 2007

Cartas (1)

Prometer não mais te magoar seria prometer não mais te amar nem permitir que voce me ame, porque quando voce abre a porta do amor, o gozo e a dor, a mágoa e o regozijo, o sofrimento e a alegria , vem juntos, de mãos dadas, ébrios e cintilantes pelas ruas de paralelepipedo do relacionamento.

E prometer não mais te amar seria te prometer que sou o senhor absoluto de meu coração, quando o mínimo de sensatez nos faria concordar que é ele o déspota de nosso gozo, de nossa dor e de nossas falsas promessas.