Dysfemismo

Wednesday, August 12, 2009

Morte por Causas Naturais

Ela vem, e todos nós sabemos disso. E não vai ser bonito, nem feliz. Ela é nosso pastor, nosso guia - aquilo que leva alguns de nós à fútil tentativa de afasta-la ao máximo baseando-nos em estatísticas; é também a mesma que nos afoga nas loucas frivolidades que estatisticamente aproximam-na de nós, já que nos é inevitável.

Falamos em causas naturais de morte. Mas quão natural é uma morte prolongada, e não estou falando aqui de máquinas ou de medicações mas de uma vida sem condições de sobrevivencia num ambiente natural. E é aí que as coisas ficam interessantes. Nosso ambiente não é 'natural' nesses termos.

Sexo natural é estupro.
Interação social natural é assassínio.
A morte natural é aquela nas mãos do mais apto.

No entanto, chamamos de morte por causas naturais justo àquela que não é causada por nenhum agente mortal externo. Referimo-nos à morte por causas naturais como aquela inevitável, aquela que tentamos evitar com todos os nossos vãos esforços.

Por alguma razão, enquanto a natureza é o assassinato, a causa natural é o apodrecimento progressivo em um ambiente protegido de causas naturais de morte. Mas definhar é justo aquilo que não acontece naturalmente, porque já é tarde demais quando chega esta hora.

Quão natural é sentar no sofá esperando pela sua morte, tomando todos os cuidados para evitá-la? E quão natural seria ir de encontro a ela, já que é inevitável?

Seria o suicídio a morte mais natural em nosso ambiente, já que nossa natureza é a manipulação artificial das causas naturais?

O resultado é uma superpopulação miserável.

Talvez o problema seja o seguinte: é de nossa natureza evitar a morte sobreviver, mas a morte é o que nos há de mais natural nesta vida.

Temos então que a medicina é tão natural quanto o suicídio, tão natural quanto o genocídio, quanto a extinção.

A extinção de nossa espécie é irrelevante, mas a superpopulação não é.
Para quem realmente se importa, a melhor morte é aquela que leva consigo o maior número de outras vidas possível.

A morte natural é a morte de um anarquista, de um nórdico. A caminhada rumo à morte possível, com um propósito.

Quantas coisas não deixamos de fazer pelas suas possíveis consequencias futuras em nossas vidas?
Que a morte, quando inevitavelmente próxima, nos lembre destas coisas. Com isto em mente, ela é nossa aliada - a possibilidade da morte já não é mais um impedimento, é um fato que abre um universo inteiro de possibilidades fechadas àqueles que ainda pretendem muito com sua vida, e temem perde-la.

Por Valhala, por uma morte bela e digna para aquele que saiu da antecamara do limbo para deparar-se frente a frente com seus mais mortais e maravilhosos desejos.

A morte se aproximando não é o toque frio de uma foice, mas o epítome glorioso de uma longa e escravizada espera.

6 Comments:

  • A morte é uma boa conselheira ...
    Adorei a frase final.
    Vou reproduzir no Arguta com uma chamada para a tua postagem
    Bj

    By Blogger Flavio Ferrari, At 1:35 PM  

  • Ela vem... A morte vem e já pensei muito nela, mas jamais nesses termos.
    Você põe em cheque todas as definições.
    O que é morte? O que é natural?

    Valha-me Deus essa metralhadora que questiona.
    Essa noite farei como sua postagem anterior. Vou desistir de dormir...

    Flavio (arguta) chamou, eu vim e gostei muito.
    bjs
    Rossana

    By Blogger Batom e poesias, At 3:32 PM  

  • Melhor a morte a espera.

    \o/
    Culpa do Flavio, tou aqui! =D

    By Anonymous Anonymous, At 4:59 AM  

  • Boas e verdadeiras considerações...

    Há mortes e mortes...
    Raul Seixas resumiu em sua música...

    "Eu que não me sento
    No trono de um apartamento
    Com a boca escancarada
    Cheia de dentes
    Esperando a morte chegar..."


    A melhor maneira de morrer, é viver intensamente!


    Beijos!




    PS: O Flávio sempre dá excelentes dicas! Voce é uma boa surpresa...

    By Blogger Ava, At 8:46 AM  

  • eu não tenho certeza de viver tão intensamente quanto o raul seixas, já tentei e não dá muito certo

    acho que é melhor viver intensamente na juventude, moderadamente na maturidade, e, na veliche, chutar o balde enquanto ainda é tempo.

    By Blogger Dr. Voldo, At 6:00 AM  

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    By Anonymous Anonymous, At 6:19 AM  

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