Dysfemismo

Wednesday, August 26, 2009

Semiopédia Quântica

[projeto que comecei há um tempo, dá pra ter uma idéia do que se trata]

“Basicamente, uma deturpação promíscua de conceitos...” (HANS, 1974)

Incompetência
Segundo Descartes, erramos sem a necessidade da incursão de Deus e tendo o poder para não errar, o que constitui a incompetência. Somos incompetentes porque, apesar de Deus ter nos dotado de faculdades limitadas (devidamente, já que ele não teria motivos para nos querer como conselheiros) de entendimento, nos dotou de vontade ilimitada. Assim, poderíamos julgar sobre o que não entendemos, como de fato fazemos o tempo todo.

Livre Arbítrio
Poder de ignorar os fatos, faculdade responsável pelo erro. Assim como não há lugar para a sorte e acaso se o mundo é efetivamente regido por leis físicas consistentes, não haveria lugar para o erro caso fossemos dotados apenas de entendimento e não de uma vontade livre para ignorá-lo - ou seja, sorte e acaso seriam o livre-arbítrio do mundo.

Poder demais
Não existe tal coisa.

Wednesday, August 12, 2009

Morte por Causas Naturais

Ela vem, e todos nós sabemos disso. E não vai ser bonito, nem feliz. Ela é nosso pastor, nosso guia - aquilo que leva alguns de nós à fútil tentativa de afasta-la ao máximo baseando-nos em estatísticas; é também a mesma que nos afoga nas loucas frivolidades que estatisticamente aproximam-na de nós, já que nos é inevitável.

Falamos em causas naturais de morte. Mas quão natural é uma morte prolongada, e não estou falando aqui de máquinas ou de medicações mas de uma vida sem condições de sobrevivencia num ambiente natural. E é aí que as coisas ficam interessantes. Nosso ambiente não é 'natural' nesses termos.

Sexo natural é estupro.
Interação social natural é assassínio.
A morte natural é aquela nas mãos do mais apto.

No entanto, chamamos de morte por causas naturais justo àquela que não é causada por nenhum agente mortal externo. Referimo-nos à morte por causas naturais como aquela inevitável, aquela que tentamos evitar com todos os nossos vãos esforços.

Por alguma razão, enquanto a natureza é o assassinato, a causa natural é o apodrecimento progressivo em um ambiente protegido de causas naturais de morte. Mas definhar é justo aquilo que não acontece naturalmente, porque já é tarde demais quando chega esta hora.

Quão natural é sentar no sofá esperando pela sua morte, tomando todos os cuidados para evitá-la? E quão natural seria ir de encontro a ela, já que é inevitável?

Seria o suicídio a morte mais natural em nosso ambiente, já que nossa natureza é a manipulação artificial das causas naturais?

O resultado é uma superpopulação miserável.

Talvez o problema seja o seguinte: é de nossa natureza evitar a morte sobreviver, mas a morte é o que nos há de mais natural nesta vida.

Temos então que a medicina é tão natural quanto o suicídio, tão natural quanto o genocídio, quanto a extinção.

A extinção de nossa espécie é irrelevante, mas a superpopulação não é.
Para quem realmente se importa, a melhor morte é aquela que leva consigo o maior número de outras vidas possível.

A morte natural é a morte de um anarquista, de um nórdico. A caminhada rumo à morte possível, com um propósito.

Quantas coisas não deixamos de fazer pelas suas possíveis consequencias futuras em nossas vidas?
Que a morte, quando inevitavelmente próxima, nos lembre destas coisas. Com isto em mente, ela é nossa aliada - a possibilidade da morte já não é mais um impedimento, é um fato que abre um universo inteiro de possibilidades fechadas àqueles que ainda pretendem muito com sua vida, e temem perde-la.

Por Valhala, por uma morte bela e digna para aquele que saiu da antecamara do limbo para deparar-se frente a frente com seus mais mortais e maravilhosos desejos.

A morte se aproximando não é o toque frio de uma foice, mas o epítome glorioso de uma longa e escravizada espera.