Dysfemismo

Saturday, August 23, 2008

EU ESTUPRO O REAL

Pois vejam que não há assinatura de estabilidade e integridade alguma de algo como ‘A REALIDADE’ no grande livro das leis universais, o livro da natureza em caracteres geométricos – que sequer existe.

Não, não faz sentido.

Isto porque o ‘sentido’ é uma projeção de subjetividade coletiva que está de acordo com as categorias semióticas (semiosis) de compreensão do real.

E por compreensão entendo: estupro, violação, sexo anal sem consentimento prévio.

Vejo o fogo sob a panela e a água em ebulição e compreendo causas e efeitos. E aonde está o contrato irrevogável de que porque foi assim sempre será assim? Aonde estão as causas e os efeitos? Um antes e um depois: a causalidade é uma categoria psicológica, intuitiva. Vemos uma sequência de coisas e concluímos que o real é feito de causas e efeitos, de permanência e de ser moral.

MAS O FENÔMENO! Dirão os que vieram depois de Kant. Que se foda o contrato do real, a coisa em si mesma. A revolução copernicana da filosofia: que girem as coisas em torno de nós – ou melhor, aquilo que nós percebemos delas, suas essências fenomenais.

Este é o estupro velado. Temos uma puta (o real) com a qual tentamos fazer o sacro amor da singularidade mística (o que não pode ser dito, mas experienciado); com a qual decepcionamo-nos (afinal, esta relação não nos trazia progresso algum, produtividade alguma...) e a quem abandonamos, afinal, sem pagar a conta, em função de uma boneca inflável fabricada sob os moldes de nosso entendimento, para estuprarmo-la incessantemente com nossa assertividade proposicional e, desta relação, germinar o zigoto da verdade.

E, o mais engraçado: isso nos tornou ninfomaníacos e controlfreaks.

E enfim, a puta ri de nossa ingenuidade: o estuprador leva uma vida de merda.