Dysfemismo

Tuesday, October 09, 2007

O Réquiem para Deus em Mi Menor

http://apokatastasispanton2.blogspot.com/
a segunda parte, ainda incompleta
Eis o projeto de abertura.


Estava divertindo-me com dois ou três casos ainda não resolvidos de minha pasta a priori quando uma horrífica e tenebrosa criatura entrou em meu escritório. Um ser humano.

- Doutor Voldo, como eu posso saber?

O verme me olhou nos olhos e uma gota de suor escorregou de sua testa até seu olho esquerdo. Era bonita a moça, olhando melhor. Decidi aceitar seu caso, mas não perderia muito de meu tempo com ele; típico casinho a priori, nada demais.

Mando um pouco de Descartes, explico pra ela o que é realidade formal e realidade objetiva; falo depois do Locke, de como ele não se importava com essas sutilezas metafísicas e de quão maravilhoso é o mundo liberal. Uma opção berkleyniana não seria mal também. Se ela me mandar escolher, eu conto pra ela da opção do jovem Werther.

Alguma coisa, porém, estava me incomodando. Fazia tempo já, inclusive, e estava piorando. Uma dor. Não sei bem. Cambaleei até a cozinha, a cólica me demolindo, quase indo ao chão; lembrei-me. Comida. Precisava sair numa incursão ao exterior para comprar comida.

Saí do meu escritório (meu humilde lar, na verdade) e atravessei o corredor. Sons fudroyantes e caóticos emanavam furiosamente por entre os vãos das portas dos outros apartamentos. Televisão, eles chamavam – uma caixinha de terror radioativo, e ainda reclamam do meu cigarro. Os animais tem acesso a 3 dígitos de canais diferentes e nem um centésimo deles é de pornografia. Digno de pena.

O supermercado decorreu suavemente. Entediado, e com alguns sacos de compras nas mãos, resolvi buscar casos à maneira cínica. Morder as pessoas nas ruas.

A reação dos cidadãos dessa patética colônia ao serem aporeticamente acometidos jamais poderia ser comparada a um parto.

A maiêutica se torna a arte de esculpir fezes, a técnica de exumar cadáveres e animar zumbis – quando não existe senão esterilidade, pois Deus e a fertilidade foram, há muito, enterrados.

A maior parte dos cidadãos comuns atira revistas de tiragem alta sobre mim quando tento interroga-los. Gritam ignomínias sobre minha pessoa e fogem para suas cavernas para ver televisão. Alguns tentam te convencer a comprar coisas – suponho que sejam contagiosos, pois os autóctones os evitam como pragas.

No entanto, alguns poucos acabam sendo convertidos; são estes que me pagam para fazer o que eu faço.

Detetive Voldo
Doutor em epistemologia

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