Dysfemismo

Tuesday, June 19, 2007

A Legalização

Soube que a super-interessante e que a folha pronunciaram-se a respeito da legalização da Maconha. Não lí nenhum dos artigos, porque sou preconceituoso e acredito que tudo aquilo que tem como público um número significativo de leitores será, necessariamente, proporcional à capacidade intelectual e ao conhecimento destes leitores.Capital).

Considero duas possíveis esferas argumentativas no que diz respeito à legalização da maconha: uma objetiva e outra subjetiva.

1. subjetivamente, podemos dizer que maconha causa muito menos danos físicos e mentais do que o alcool, dizer que a proibição da maconha sustenta-se sobre bases morais e não médicas. Que a maconha só não foi legalizada pelos mesmos motivos que ilegalizam o suicídio, a eutanásia e o casamento incestuoso (desconsiderando a Argentina). Também pode-se dizer que é um absurdo anti-constitucional que o indivíduo não tenha direitos sobre o próprio corpo, e que crime sem vítima não deveria existir, e que só existe porque o a turma do John Locke inventou um tal de "acordo tácito" que faz com que todos nós que nascemos em um delimitado espaço de terra sejamos automaticamente propriedade da autoridade estatal. A moral capitalista, a moral protestante, funciona como uma pressão generalizada contra qualquer tipo de prática anti-produtiva, pois, como há tempo demais já enfatizaram muitos marxistas, o sistema funciona tendo como fim último o Capital e não a glória e o gozo da civilização.

2. Objetivamente, e é aí que eu entro, a questão torna-se glasnosticamente simples:

Como já inclusive salientei em outros textos, o uso de alteradores de consciencia ("drogas", no jargão popular) está inextricavelmente conectado à civilização.Não conheço sequer um individuo sensato que teria a coragem de afirmar que em breve a civilização não "precisará" mais de drogas, que o consumo diminuirá gradativamente e que, enfim, as drogas serão extintas.

Sabemos bem que o tráfico de maconha movimenta milhares, milhões. Sabemos que o uso vem crescendo, e que, concomitantemente, cresce o poder dos traficantes. Coincidentemente, estes traficantes estão ligados ao crime organizado. Coincidentemente, o crime organizado está cada vez mais poderoso, já que a verba adquirida pelo tráfico converte-se em armamento, em centralização, em controle, em poder. A verba do crime organizado é alexandrinamente superior à verba da polícia, portanto.

Clamam os cegos sartreanos da modernidade: "é o usuário que sustenta o tráfico, temos responsabilidade pelo poder do crime organizado".Se ilegalizarem o sexo, qualquer um que o trafique há de se tornar o rei do universo e eu quero ver quem é que vai ter a cara de pau de dizer que é o libidinoso que sustenta os poderes despóticos do rei do universo.

Quem sustena o tráfico é a proibição. Não se pode proibir algo que é incontrolável e intrínseco à civilização, a menos que as consequencias desta legalização sejam funestas à sociedade. E me parece que, no acso, é exatamente o contrário que ocorre.

Mas dizem alguns: "Se a maconha for legalizada, o crime organizado terá de se focar em outras atividades, como assaltos e sequestros".Sim, eu até posso concordar que por um breve período de ruptura, o crime aumente. Mas é estruturalmente inviável que o crime organizado se sustente por muito tempo sem o incoming exorbitante de dinheiro advindo do tráfico de drogas. Sem essa base financeira, o crime organizado deixa de ter possibilidade de organizar-se tao eficientemente - por que sem recursos, neste mundo, não se tem poder nem organização.

E isso não tem absolutamente nada a ver com usar ou não usar drogas, isso é problema do usuário, porque é crime sem vítima. E vítima de overdose de maconha não existe, mas existe coma alcoolico. Motorista alcoolizado há 150 km/h na Brasil existe, mas quero ver quem tem condições de fazer isso chapado. E ainda que se prove que a maconha seria tão nociva quanto o alcool ao funcionamento da civilização, o que fariam? ilegalizariam o alcool?

Já fizeram isso nos estados unidos, com a Dry Law, e , caso alguns de voces não se lembrem, foi o que sustentou a máfia. E, se não me engano, depois do fim desse absurdo, quem agora manda lá são os judeus, o que me parece bem mais saudável em termos de política interna (desconsiderando os infortúnios do abuso bélico sionista, que não dizem respeito a meus propósitos imediatos).

Desconheço argumentos contra a legalização que não sejam cristãos (Especialmente protestantes) e que não orbitem em torno de "o homem não precisa disso" (o que já foi provado como absurdo) e "a sociedade tornar-se-á mais improdutiva" (o que não foi provado, mas ainda que seja, jamais significaria uma queda da qualidade de vida objetiva do homem - apenas um regresso na lógica inefável do Deus Capital).


*1: eu não sou a veja nem a folha, e me recuso a colocar números e gráficos pra mastigar pra vocês o meu ponto de vista. Quem quiser, entre em www.google.com e descubra a estimativa de quantos milhões movimenta o tráfico de drogas nesse país.

*2: o que impossibilitou até então (e talvez continue a impossibilitar) a legalização da maconha são as possíveis represálias internacionais - já que os Paladinos da Guerra Contra as Drogas de Washington são os verdadeiros governantes do nosso país - e a dificuldade da aceitação interna que esta medida terá, de acordo com o progressivo e crescimento dos movimentos de rigidificação moral da população ignobilizada por falta de proteína e excesso de ditadura.

18 Comments:

  • É um assunto polêmico, mas tendo a concordar contigo. Tudo que é proibido, nos provoca a querer fazer. E leis que proibem, invariavelmente, exacerbam outras coisas piores, como muito bem mostras aqui...

    By Blogger Anne M. Moor, At 9:17 AM  

  • A única coisa com a qual se tem que tomar cuidado é a de que essa lógica não se generalize...
    Por que se depois da maconha voce quiser legalizar a cocaina, depois a heroina e depois sei la o que, pelos mesmos motivos que se legalizou a maconha, é provável que a sociedade se torne uma coisa pior do que é hoje, momento no qual aqueles que não utilizam essas novas drogas-legais pagarão por todos os outros...
    No mais, concordo com tudo que foi escrito...

    PS: me dei o direito de fazer um juízo de valores, ao dizer que a sociedade piorará, sem nenhum tipo de argumentação. Achei que discutir o porquê disso aqui não cabia e tiraria o foco do meu comentário.

    By Blogger Avz, At 11:39 AM  

  • anne, eu nao disse que o que é proibido provoca vontade de fazer, essa é outra discussão

    avz, concordo perfeitamente que deve-se tomar cuidado com a minha lógica argumentativa porque em última instancia ela acaba por defender a legalização de qualquer coisa.

    Mas referi-me especificamente a maconha porque o que defendi é a questão objetiva, e objetivamente a legalização dos opiaceos como heroina não trariam nenhum beneficio político e economico.
    Quanto a legalização da cocaina e das anfetaminas, creio que ao mesmo tempo que tiraria mais poder economico do tráfico, poderia trazer consequencias sociais mais nocivas à cidadania (porque enquanto o "chapado" perde boa parte de sua capacidade bélica, o contrário acontece com a cocaina e com as anfetaminas, e por isso não saberia ainda que posição tomar a este respeito.
    Mas se a decisão fosse minha, eu legalizava tudo, de heroína a eutanásia assistida e casamento com irmã.

    Na minha opiniao, seria melhor legalizar tudo e sobretaxar tudo aquilo que pode eventualmente ser nocivo, e, então utilizar a verba da sobretaxa na educação e na contenção dos inconvenientes eventuais que a legalização suprema causaria.

    Mas eu concordo que é uma posição meio absurda, e é justamente por isso que eu a tenho.

    By Blogger Dr. Voldo, At 7:27 PM  

  • sempre que eu acho que escrevi pouco eu vou verificar e escrevi demais.
    Coitados de vocês, meus leitores.

    By Blogger Dr. Voldo, At 7:27 PM  

  • A argumentação é interessante e tem base.
    Támbém acho que o que a Anne pontua é uma coisa diferente. Proibição estimula os que querem contestar imaturamente.
    O comentário do Vidiz é igualmente válido, tal qual você reconhece.
    Meu ponto contra é o impacto sobre o crime organizado. Seguramente, a proibição (desnecessária) de drogas leves ou de qualquer outra necessidade social é uma mão na roda para "criminosos".
    Também não estou com paciência para procurar gráficos mas creio que em qualquer país onde a intervenção do estado é mais inteligente, a vida do crime organizado é mais difícil.
    Mas creio que a única forma de combater o crime organizado é vontade política e tolerância zero.
    Resolvem a questão, criam outros problemas sociais e, de todo modo, são pouco prováveis na América Latina.

    By Blogger Flavio Ferrari, At 8:50 PM  

  • Rodrigo: eu seiiiiiiii que não disseste... Quem disse fui eu... O teu texto, com a qual tendo a concordar (ainda tô pensando...) despertou algumas coisas melhor esquecidas e my mind went rambling off...

    By Blogger Anne M. Moor, At 12:48 PM  

  • É uma questão complicada. Porque, objetivamente, sobretaxar a venda aproxima-se de proibir, já que começa a ter sonegação, contrabando, etc. E também porque, na prática, o dinheiro arrecadado além de ser desviado por quem tem o poder de decisão, é muito mal utilizado (www.google.com para procurar a situação dos hospitais e escolas brasileiras).
    A solução seria o estado se abster de ajudar essas pessoas, algo como "quer usar, usa, mas depois não vem pedir ajuda da sociedade"... Só que aí criam-se mais três (ou mais) problemas:
    1- por que o estado deixaria de ajudar essas pessoas e continuaria dando amparo para fumantes, bêbados, gordos, bombados, comedores de carne vermelha, sedentários, stressados, etc? Onde fica o limite entre o que a sociedade está disposta a ajudar e o que a sociedade não está?
    2- as pessoas fugiriam da responsabilidade assumida ao utilizar a droga. Demoraria uns 6 meses até a primeira reportagem sensacionalista surgir mostrando a situação dos pobres drogados desamparados, que foram iludidos pelas empresas que vendem as drogas, através de sua publicidade agressiva (visando inclusive o público infantil).
    3- Enquanto o problema ignorado pelo Estado for a saúde dessas pessoas, até que tudo bem, porque por mais que seja desagradável ver alguém morto e jogado no meio da rua, é só recolhe-los. Mas os problemas começam a entrar na segurança pública, e aí o governo não pode se abster. Como garantir que os viciados em crise de abstinência não robem / matem para comprar mais drogas?
    Quanto a questão do combate ao crime organizado, concordo com o flavio em relação à vontade política. Porém, para que a vontade apareça, a sociedade precisaria cobrar seus "representantes" e para isso precisaria ser educada e consciente. Não é o caso e nem parece que vá ser no médio prazo.

    By Blogger Avz, At 1:08 PM  

  • Menino,te vi no orkut.
    Como tú é bonito...
    Lú.

    By Anonymous Anonymous, At 5:39 PM  

  • ;) perfect!

    By Blogger Anitka, At 8:01 PM  

  • Vidiz: em tempos de ética-estética, vale a indignação sofalística (na sala, sentado diante da televisão y no más).
    Lú: sorte do Rodrigo que "puxou" a mãe ...

    By Blogger Flavio Ferrari, At 9:22 PM  

  • Seus textos estão navegando pela blogsfera...
    http://shee-hulk.blogspot.com/

    By Anonymous Anonymous, At 12:42 PM  

  • quem é lu?

    By Anonymous Anonymous, At 12:53 PM  

  • Sou eu.
    Muito prazer...
    Lú.

    By Anonymous Anonymous, At 6:02 PM  

  • Se quem voce é é um nome, voce não deve ser uma pessoa muito feliz

    ^.^


    a pergunta "quem é voce" significa subjetivamente "qual a conexão social que existe entre nós e/ou como a sua presença no locus virtual em que a pergunta foi feita aconteceu e/ou qual o seu ORKUT e/ou MSN".

    By Anonymous Anonymous, At 2:20 PM  

  • Sou às vezes feliz , às vezes infeliz, como todos ,e penso que para credenciar-se em um espaço virtual público podem ser suficientes (a nosso critério) apenas os comentários (DESDE que não ofensivos).
    Mas posso começar acrescentando quatro tendências minhas:
    1- Procuro ser educada.
    2- Não gosto de julgar as pessoas.
    3- Acho bom-humor importantíssimo
    4- E ética(em relação ao espaço alheio) também.
    Respondi?
    Lú.

    By Anonymous Anonymous, At 4:14 PM  

  • Se me perguntassem eu diria que a Lú é a Lucia ...

    By Blogger Flavio Ferrari, At 4:06 PM  

  • Flávio:
    Rsss
    Lúcia.

    By Anonymous Anonymous, At 4:14 PM  

  • Flávio e Lú: perfect... :-)

    By Blogger Anne M. Moor, At 9:49 PM  

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