Dysfemismo

Friday, June 15, 2007

O Fim da Civilização

A progressiva libidinização da elite subseqüente à revolução sexual dos anos 60 implodiu os alicerces da civilização, que até então dicotomizava sua dimensão temporal, para desembocar em um pós-modernismo plurizado temporalmente mas teoricamente dicotomizado entre civilizados (os párias) e pós-civilizados (a elite).

Na civilização, o dever e o trabalho são temporalmente isolados dos rituais de liberação, de regressão aos estágios primitivos. Durante a semana, um cristão sério e comedido; durante o jogo do palmeiras e nas festividades noturnas, um animal descontrolado. A violência e a sexualidade (libido) são desconscientizadas pela imposição dos tabus, liberando-se premeditadamente nos estados de alteração, entorpecimento - desconscientização.

É então que a revolução sexual aplica o coupe de grâce na civilização, ao levar inevitavelmente à conscientização do que fora proibido. A conseqüência é uma nova e caótica fusão parcial entre o animal e o civilizado. Os tabus caem por terra, animalizando a vida civilizada: as substâncias utilizadas de forma ritualística para induzir ao estado primitivo são consumidas durante o estágio temporal de civilizado (o que é evidenciado, por exemplo, através do alto índice de alcoolismo); a esfera sexual, antes privada, torna-se pública (como nos deixa claro o poder da indústria pornográfica e suas possibilidades de divulgação); etc.

Concomitantemente, crescem em velocidade assombrosa os movimentos de intensificação da rigidez moral (como, por exemplo, o milagre evangélico que vem ocorrido no Brasil nos últimos anos) – como defesa do civilizado. Observa-se então a dicotomia pós-moderna: grande parte da sociedade defende-se como pode do apocalipse da civilização, enquanto uma elite esclareceu-se demasiadamente para permanecer civilizada. Aos olhos pós-civilizados, os civilizados tornam-se bárbaros cegos por seus ridículos ideais morais, incapazes de perceberem que não são seus próprios super-egos; aos civilizados, os pós-civilizados são inescrutabilizados pela sua rigidificação moral: são simplesmente errados.

Essa dicotomia, porém, é teórica. Na prática, observa-se o caos de todos os estágios intermediários entre o civilizado decadente e o pós-civilizado ainda não consolidado.




(rascunho, não revisado. Carece de qualquer sustentabilidade bibliográfica pois emergiu abiogeneticamente das profundezas de minhas teorizações internas. Aceito sugestões bibliográficas)

23 Comments:

  • Sem comentários talvez porque você acabou de publicar. É meio hermético, mas gosto de imaginar que entendi.-zuleica

    By Anonymous Anonymous, At 2:47 PM  

  • Daews... belo texto..

    Sobre referencias, Zygmunt Bauman sempre ajuda em textos sobre a época em que vivemos... Talvez ajude a explicar a queda de tabus e outras "crenças" antigas...

    Falow.s..
    Vidiz

    By Blogger Avz, At 9:36 AM  

  • Fantástico... inspiradíssimo... e tão óbvio depois de dito que nem parece novo ... mas seguramente é a primeira vez que vejo.
    Acho que vale desenvolver e partilhar.

    By Blogger Flavio Ferrari, At 5:28 PM  

  • Ótima reflexão e uma discussão bastante viável para os tantos porquês que não se calam. Vou ler de novo...

    By Blogger Anne M. Moor, At 4:45 AM  

  • Reflexão lúcida, e que nos leva a pensar na dicotomia ( e seus estágios intermediários) sempre existente em qualquer aspecto da cilvilização.Essa análise abarca a temporal e (na falta de palavra mais precisa)a social. É a reação sempre existente em qualquer movimento que traz este estado de coisas.O caos se estabelece até a consolidação de valores e comportamentos ,e o inaceitável passa gradativamente a ser aceito.
    E assim caminha a humanidade....
    Lú.

    By Anonymous Anonymous, At 6:42 AM  

  • Querias referências bibliográficas... Certamente já leste bem mais do que eu, mas a Teoria do Caos está aí pra trazer luz a diversos processos... E o livro do Steven Hohnson "Emergência a Dinâmica de Rede em Formigas, Cérebros, Cidades e Softwares" é bem interessante...

    By Blogger Anne M. Moor, At 8:42 AM  

  • Rodrigo:

    Sei não. Não aceito com facilidade idéias de rupturas sociais, morais ou de qualquer outra natureza na trajetória da humanidade. A Revolução Francesa queria romper e não rompeu. A Reforma queria romper e não rompeu. A chamada Revolução Sexual dos anos 60 idem. Libidinagem sempre existiu, e sua exposição não contribui lá muito para o comportamento da macacada não. E bebedeira não é fuga. É doença mesmo. Quando muito carência de lítio no organismo.
    Sabe o que acho que acontece? De vez em quando alguma dimensão social, humana, leva um pontapé. Como a sexualidade nos anos 60, por exemplo. Daí vem a embriaguez, o overshot. O exagero. Então,a reação. Inevitável, inescapável, perfeitamente previsível. Segue-se nova onda -- novo overshot -- com polaridade inversa, mas menor amplitude. Daí o excesso de carros com mensagens bíblicas e profissões de fé no vidro traseiro. E assim vai. Até que tudo se acomoda em um patamar diferente, menos descomportado, mais justo e equilibrado. É a famosa oscilação amortecida.
    Só precisamos ficar atentos a energias que realimentem o fenômeno de forma exacerbada. O resultado disso? Ou vai oscilar mais que o necessário -- e com amplitides iguais -- ou o fenômeno amplifica-se e sai de controle. No caso da sexualidade, libidinagem e outras manifestações pós Woodstock as coisas parecem estar se acomodando.
    Só você, ao sobreviver ao rabugento aqui, pdoerá escrever no futuro o que de fato aconteceu, rsrs

    By Blogger Ernesto Dias Jr., At 9:52 AM  

  • Quem não aceita fácil Rupturas geralmente é engenheiro demais pra perceber que ruptura nunca vem por abiogenese.
    1 é um numero, 2 é outro, e entre eles tem uma infinidade de numeros, ligando-os perfeitamente e, ainda assim, podemos dizer que o 1 é o 1 e o 2 é o 2.

    O ponto é que ninguem Rompe dessa maneira que voce está afirmando ser impossível, e com isso eu concordo.
    Mas ao inves de jogar o termo no lixo (porque em ultima instancia ruptura nunca existe) eu o re-significo pra um momento de re-estruturação, não necessariamente profundo nem muito difundido, mas jamais separando completamente um período do outro, apenas diferenciando-o o suficiente em alguns parametros que consideravamos base do sistema anterior.
    No pós modernismo nao há revolução

    Mas eu nao vejo isso de forma tão tese-antítese-sínstese como voce coloca, porque acredito que esse tipo de processo ocorre na civilização, nao no pós-modernismo que joga o pós-civilizado, o civilizado e o primitivo todos no mesmo caldeirão e mistura indiscriminadamente

    By Blogger Dr. Voldo, At 1:19 PM  

  • Rodrigo,

    Em seu post anterior, você fez referência a nào ser senhor absoluto do coraçào quando falou do amor.
    Sem perder esse meu vício psicanalítico de fazer o que Freud chamou de associaçào livre de idéias,dá para pensar neste seu post que de um lado há o controle rígido das emoções e ações (ou tentativa de) e de outro a possibilidade de romper com esse controle.
    Quando há essa ruptura, pode ou não ocorrer um descontrole.
    É o mundo civilizado X mundo primitivo (algo assim)
    Sendo que esse civilizado depende de inúmero fatores (sociais, morais, religiosos, e emocionais)
    E quanto maior o mêdo do primitivo, maior a necessidade deste civilizado.
    Você falou entre outras coisas de psicanálise.
    Em casa eu posso te dar mais bibliografia,mas eu acho que vc já tem tudo!
    Beijos

    By Anonymous Anonymous, At 2:25 PM  

  • O pessoal da minha família devia fazer como minha avó, que não coloca o sobrenome

    pega mal saber que só minha família le meus textos!

    By Blogger Dr. Voldo, At 4:45 PM  

  • Vestindo uma armadura como diria a Lú, quero trazer alguns pontos do teu texto pra pensar melhor de maneira compartilhada...
    1. Concordando com o Ernesto, não foi a libidinização da elite que surgiu após os anos 60. Foi a publicização dessa libido que irrompeu nossas vidas, libido que existe desde sempre.
    2. Quem está um animal descontrolado em jogos e eventos noturnos, dificilmente será "sério e comedido" em qquer seara de sua vida.
    3. O "milagre evangélico" só encontrou guarida por causa da completa inversão e/ou perda de valores e limites, que suponho seja o que estás chamando de "uma nova e caótica fusão parcial entre o animal (o primitivo) e o civilizado." E isso aconteceu neste país pela mais absoluta falta de vontade política de investir na educação e no desenvolvimento de leitores. Leitores que conseguem ler na mais profunda acepção da palavra, fazer conexões, ligações com o passado, o presente e o futuro, aqueles que conseguem ler-se e ler o outro, o mundo, isto é, o espaço e o tempo...

    Pode até ser que não tenha entendido o teu texto como gostarias, mas o sentido que construí trouxe à tona essas reflexões...

    By Blogger Anne M. Moor, At 5:22 PM  

  • Observação injusta ...
    O Vidiz não é parente, apesar de grande amigo.
    A Lú leva jeito para tia, mas também não é da família.
    A Anne nem brasileira é.
    O Ernesto é um irmão de alma, quase seu tio, portanto, mas é quase ...
    Isto significa que a maior parte dos comentários não foi da família.
    Ou seja, apenas sua mãe e eu colocamos o sobrenome.
    E o fato de mãe e pai lerem e comentarem seus posts me parece bastante positivo.

    By Anonymous Anonymous, At 10:28 PM  

  • Ernesto:
    A reforma, não rompeu? A revoluçao francesa não rompeu?
    Se não rompeu trincou bases antigas e permitiu como diz o Rodrigo novas estruturas.
    E me parece perfeitamente natural, que essa ruptura não seja mesmo radical,mas sim gradativa (os nrs entre o 1 e o 2) afinal sempre existe o período de reaçao entre a nova idéia, o novo olhar, o novo conceito.
    Quanto ao drogas, sexo e rock and roll pós Woodstock, o exagero(confirmando a regra) como sempre se acomoda e hoje a "paz e amor "adquirem também outro significado.
    E o caldeirão de pólvora do civilizado, pós civilizado e primitivo vai fervendo ...
    Anonymous:
    Quanto ao jeito pra tia, não sei se gostei ou não. Se for tia iguais as tias de verdade, adorei porque tia é muito massa, tem o carinho da mãe e não pega no pé como ela. Se a conotação for de tia como se usa hoje com todas as pessoas mais maduras, professoras e tal, detestei, porque isso não é justo nem com as professoras e nem com as tias.
    Rodrigo:
    Um beijo
    Lú.

    By Anonymous Anonymous, At 5:33 AM  

  • Rodrigo,

    Lendo "Travessuras de uma menina má" de Mario Vargas Llossa pude ver que a revolução sexual se deu de uma forma muito distante do seu objetivo inicial.

    Os hippies surgiram com o objetivo de buscarem uma vida mais natural, sem utilizarem as mordomias e costumes da civilização existente...

    Neste contexto, com o espírito livre, os entorpecentes e a vida sexual tornaram-se peças fundamentais dentro desta nova comunidade. Não no sentido pejorativo, mas apenas saudáveis e naturais de uma sociedade "primitiva"...

    Porém muitos artistas e outros jovens atormentados por suas vidas atuais, porém sem considerarem a purificação de suas almas, aproveitaram o movimento como uma simples forma de protesto... Com isto o que de fato poderia ser uma grande mudança social, diria até uma evolução, tornou-se apenas um modismo e como tal, encontra-se hoje em total decadência!!!

    As rupturas ocorrem sempre, todos os dias, mas acredito que as mais duradouras são aquelas que só os mais observadores têm condição de sentir...Talvez você seja um deles!!

    By Anonymous Anonymous, At 6:22 AM  

  • E existe algo que venha por abiogênese?
    Onde, quando, porquê?
    Nunca vi.
    Geração expontânea?Completamente contra o natural.
    Lú.

    By Anonymous Anonymous, At 6:38 AM  

  • Ti,
    Mudando de alhos pra bugalhos, adoro Vargas Lhossa. Acho a literatura dele erótica e maravilhosa.
    Lú.

    By Anonymous Anonymous, At 6:48 AM  

  • Será? Nao sei nao, mas tendo que tomar partido, acho que nao... :-)
    Abraço, doppiafila

    By Blogger doppiafila, At 1:11 PM  

  • Eu pretendi usar os anos 60 como marco, não como ruptura.
    Mas tá bom, retiro os anos 60.

    Só que não me refiro somente ao brasil, e nem à esfera política, mas cultural.

    E lú, é CLAAAAAAAAARO que existe abiogênese. Se não existisse, não estariamos aqui, porque a vida não teria surgido da não vida!

    Agora alguns pontos:

    1. Não acredito, de fato, em ruptura. Só em processo. Revolução é o nome que damos pra o marco de uma mudança gradativa, porque jamais há revolução sem base revolucionária, e não há base histórica pra revolução. O termo Revolução, quando utilizado em contexto histórico, é uma metáfora análoga à "revolução" como giro de 360º.

    2. Não acho que o milagre evangélico seja causado pela ineficiencia de nosso sistema de educação, porque a maioria é sempre ignorante em todos os sistemas políticos que a história da humanidade já vivenciou. O mundo é um só, e só existem noruegas porque existem serra leoas.

    3. Sobre a quetão das drogas, que acabou surgindo pela tangente, vou publicar alguma coisa curta e, novamente, sem nenhuma bibliografia

    By Blogger Dr. Voldo, At 7:04 PM  

  • Rodrigo:
    Só um inseto que eu achei em um pote de doce de goiaba "hermeticamente" fechado e produzido e embalado dentro das normas de qualidade e higiene exigidas(segundo afirmações categóricas e veementes do fabricante).
    Esse foi geração expontânea....
    Bjo
    Lú.

    By Anonymous Anonymous, At 5:52 AM  

  • Lu:
    Geração expontânea é a minha. A gente fala cada coisa com um expontaneidade!

    Lu de novo:
    Que nada. A tal Revolução Francesa foi só um agito pra tirar uma tirania e botar outra. Ou Robespierre não era um Lula que falava francês? Quanto as outras consequências da tal revolução -- nas artes, na literatura, no pensamento, etc etc. -- não vejo relação de causa e efeito. Do jeito que eram os franceses à época, eles iam mexer com tudo isso, revolução ou não revolução.

    Rodrigo:
    Desce o cacete, sobrinho. Antes que amadureça demais e se torne ponderado e sábio como seu pai. Èta idade boa!

    By Blogger Ernesto Dias Jr., At 9:13 AM  

  • Bom, a plebe rude mostrou tb que poderia ser tirana. Isso de certa maneira equilibra as coisas.Torna-as bilaterias.
    Lú.
    Quanto ao ideal de igualdade, liberdade e fraternidade, mesmo sendo importado do EUA discurso oco pra "ingles" ver, não foram só os ingleses que viram .O mundo viu e de certa maneira assimilou ,despertou consciências e só prestou atenção porque quem levantou a bandeira foi a França, berço da civilização à epoca ,simplesmente porque detinha o poderio econômico dentre outros.
    Teve um papel importantíssimo e inegável em novas estruturas.
    Como sempre, a "grana" determina...
    Lu.
    Nada contra a expontaneidade de sua geraçao, entao digo que o inseto surgiu pelo pomposo nome de abiogênese....
    Sabe o que é? Eu adoro simplicidade...

    By Anonymous Anonymous, At 6:12 PM  

  • Alguém pode me explicar que diabos a abiogênese tem a ver com toda essa conversa? O único ser abiogênico que conheço é o robô do Asimov.

    By Blogger Ernesto Dias Jr., At 10:43 AM  

  • Tem isso a ver:
    "Quem não aceita fácil Rupturas geralmente é engenheiro demais pra perceber que ruptura nunca vem por abiogenese."
    Ou seja foi usado no sentido figurado.
    Só...
    Lú.

    By Anonymous Anonymous, At 3:28 PM  

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