Excertos de: "O Fato Não Existe"
(...)
Nesse contexto, a noção de que não somos nós mesmos é perfeitamente cabível, clara e intrínseca à nossa condição: o que chamamos de nós mesmos é uma ilusão projetiva; não poderia dizer de que é esta ilusão projetiva porque dizer que o que acreditamos poder chamar de nós mesmos é, na verdade, uma ilusão projetiva de nós mesmos, seria afirmar que nós temos essência, alma, ou, se preferirem, um "em si" de nós mesmos.
(...)
Alias, nenhum de nós pode conceber o mundo sem o “em si”, apenas ter idéias a seu respeito, tão imperfeitas quanto as que temos de Deus. Justamente porque nosso mecanismo mental de identificação de objeto elege e estrutura um objeto de experiência psíquica como correspondente direto de um objeto em si– segundo, obviamente, determinadas condições mentais, parcialmente fixadas [assumindo que compactuo com a teoria de que o principal aspecto de nossa excepcionalidade biológica é o desenvolvimento hipercomplexo de uma multiplicidade de interconexões cerebrais que, elevadas ao presente grau, tornam-se intrinsecamente sujeitas à variações aleatórias devido à alta possibilidade de falência dos organismos biológicos]
(...)
Quando entramos em negação, não se trata de ilusão psíquica versus fato recém absorvido; trata-se de percepção mais confortável versus percepção mais lógica ou de maior concordância em determinado grupo de confrontadores. E o elemento em negação só o é segundo a perspectiva de seu interlocutor (ou grupo de interlocutores), que, como qualquer ser humano, identifica sua percepção como fato em si, organiza-a mentalmente como fato em si e a trata como fato em si; podendo obter a subscrição e a sustentação teórica de certo grupo para que concorde (por probabilidade de amostragem e de identificação lógica – embora nos seja claro que a própria lógica de concordância é falível e subjugável por nossos mecanismos psíquicos) que é o indivíduo confrontado que está em negação e não eles mesmos que o estão (afinal de contas, negação se caracteriza por relutância em concordar com determinada “verdade” atestada pela inefabilidade do saber psicanalítico). Quanto mais longe formos, mas claro nos fica: fato é algo absolutamente descartável para toda a filosofia que não se reivindica integralmente metafísica (embora fique extremamente difícil distinguir todo conhecimento, por mais científico que seja, da metafísica se identificamos que o mecanismo psíquico humano faz com que o sujeito trate o objeto de sua experiência psíquica como fato em si; e se qualquer juízo - sintético ou analítico - não pode ter nenhuma relação com a realidade a menos que a façamos girar em torno do sujeito, como o fez kant)"
Nesse contexto, a noção de que não somos nós mesmos é perfeitamente cabível, clara e intrínseca à nossa condição: o que chamamos de nós mesmos é uma ilusão projetiva; não poderia dizer de que é esta ilusão projetiva porque dizer que o que acreditamos poder chamar de nós mesmos é, na verdade, uma ilusão projetiva de nós mesmos, seria afirmar que nós temos essência, alma, ou, se preferirem, um "em si" de nós mesmos.
(...)
Alias, nenhum de nós pode conceber o mundo sem o “em si”, apenas ter idéias a seu respeito, tão imperfeitas quanto as que temos de Deus. Justamente porque nosso mecanismo mental de identificação de objeto elege e estrutura um objeto de experiência psíquica como correspondente direto de um objeto em si– segundo, obviamente, determinadas condições mentais, parcialmente fixadas [assumindo que compactuo com a teoria de que o principal aspecto de nossa excepcionalidade biológica é o desenvolvimento hipercomplexo de uma multiplicidade de interconexões cerebrais que, elevadas ao presente grau, tornam-se intrinsecamente sujeitas à variações aleatórias devido à alta possibilidade de falência dos organismos biológicos]
(...)
Quando entramos em negação, não se trata de ilusão psíquica versus fato recém absorvido; trata-se de percepção mais confortável versus percepção mais lógica ou de maior concordância em determinado grupo de confrontadores. E o elemento em negação só o é segundo a perspectiva de seu interlocutor (ou grupo de interlocutores), que, como qualquer ser humano, identifica sua percepção como fato em si, organiza-a mentalmente como fato em si e a trata como fato em si; podendo obter a subscrição e a sustentação teórica de certo grupo para que concorde (por probabilidade de amostragem e de identificação lógica – embora nos seja claro que a própria lógica de concordância é falível e subjugável por nossos mecanismos psíquicos) que é o indivíduo confrontado que está em negação e não eles mesmos que o estão (afinal de contas, negação se caracteriza por relutância em concordar com determinada “verdade” atestada pela inefabilidade do saber psicanalítico). Quanto mais longe formos, mas claro nos fica: fato é algo absolutamente descartável para toda a filosofia que não se reivindica integralmente metafísica (embora fique extremamente difícil distinguir todo conhecimento, por mais científico que seja, da metafísica se identificamos que o mecanismo psíquico humano faz com que o sujeito trate o objeto de sua experiência psíquica como fato em si; e se qualquer juízo - sintético ou analítico - não pode ter nenhuma relação com a realidade a menos que a façamos girar em torno do sujeito, como o fez kant)"
13 Comments:
Primeiro comentário deste texto. Só pra vc parar de achar que ninguém lê o seu blog....eu leio sempre....posso depois não me lembrar com detalhes do que vc escreveu rs mas leio...e saiba, que eu adoro quase tudo o que vc escreve. Não vou falar que adoro tudo pq senão vc vai ficar muito convencido. Bjo enorme!
By Anonymous, At 7:10 AM
Convencimento e insegurança são diretamente proporcionais: quanto mais convencido é alguém, mais inseguro ele é; dessa forma, se me voce me elogiar em 100% e eu ficar 100% convencido, eu serei 100% inseguro e precisarei, consequentemente, de 100% do seu elogio.
Ergo, não faz diferença.
^.^
By Dr. Voldo, At 11:50 PM
Ai mas eu tava esperando um comentário desse tipo...:P
By Anonymous, At 4:51 AM
Argh, saí como anônimo, que chato rs...:D
By Anonymous, At 4:53 AM
Alguns pensamentos acumulados ao longo de uma extensa e profícua vida, sintetizados em frases incapazes mas instigantes...
- o Homem fez Deus a sua imagem e semelhança
- o que são os fatos diante da força dos argumentos ?
- eufemismo é chato, disfemismo também, mas é "estiloso" no conceito rodriguiano da palavra
- elogio é bom e eu gosto ... mas prefiro o respeito
O que eu mais gosto em seus textos é o alinhamento com o princípio filosófico da mais pura casta indígena brasileira, traduzida pelo mantra tupi-guarani: "cutucocucontaquara"...
By Flavio Ferrari, At 8:26 AM
Espantoso que voce tire l0 em matérias como essa! Humildemente confesso que não entendi nada!Mas li e gostei de ler (chega?)- Estou com saudades-. Zuleica-beijos
By Anonymous, At 6:19 AM
Podemos inferir que, se convencimento e insegurança são diretamente proporcionais, as pessoas com baixa auto-estima são 100% seguras? Mas, seguras de que? De que não servem para nada?
By Anonymous, At 6:24 PM
Não, não, seguras de que servem pra tudo!
uma absoluta ausência de convencimento seria não a baixa auto-estima, mas a total falta de fé nos próprios potenciais, mais especificamente. Será 100% segura dessa falta de potênciais, portanto, e não faria sentido algum elogiá-la, nesse sentido, já que ela é absolutamente segura de tal coisa (se é 100%, é inquestionável e impenetrável)
By Dr. Voldo, At 10:44 PM
Este seria aquele ¨quebra mão¨ convicto, que diria que o melhor é nada fazer, para fazer o melhor possível, uma vez que está seguro de sua absoluta inadequação!?
By Anonymous, At 3:53 PM
Não é correto proceder logicamente tendo em mente um objetivo específico, porque isto é, apesar de útil para a vida prática, tendencioso.
Eu não escrevo o que escrevo com objetivo de provar esta ou aquela proposição ideológica, mas simplesmente tirando as conclusões inerentes à determinadas colocações lógicas.
By Dr. Voldo, At 9:55 PM
Tem uma coisa que eu não entendo. Para que raciocinar sobre um assunto se não devemos fazer uso prático desse raciocínio?
By Anonymous, At 3:59 PM
Ora, pelo mesmo motivo que vivemos mesmo sabendo que o fim não é nem um pouco agradável:
porque é gostoso.
By Dr. Voldo, At 10:40 AM
Eu ainda vou criar uma seita, contratar esse cara como guru e ficar rico ...
Que tal o projeto do desbatismo ?
By Flavio Ferrari, At 8:23 PM
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home