O Umbigo, a Merda e o Ventilador
Julgas, do alto de vosso imaculado pedestal, que és o mais inocente, casto, alabastrino, íntegro, virginal e virtuoso dos seres deste mundo; que todos aqueles que portam o órgão sexual diferente do teu são os mesmos obscenos, indecentes, ignominiosos e deploráveis infratores do santíssimo imperativo ético absoluto de dentro da sua excelentíssima imaginação metida a racional de animal-psíquico?
- Sim, são todos uns animais, uns cachorros - é o que você me diz sem me ouvir.
- Sim, todas, sem exceção, putas sem coração – é o que eu te respondo sem pensar.
Afinal de contas, porque outro plausível motivo, em todo relacionamento em que eu e você resolvemos nos meter, as coisas terminam, sempre, em uma pilha enorme, pútrida e pecaminosa de merda jogada no ventilador? E então o velho sábio da montanha cujo nome não ousaria reproduzir, responde:
- Será que não é você quem está jogando a merda no ventilador, e se achando o mais injustiçado dos seres porque algum tipo de força incontrolável, inefável, imprevisível e inextricável do universo estaria, supostamente, a espalhando [sim, a merda] segundo as aleatoriedades imprevisíveis da vida?
[versão ocidentalizada: Se tudo dá errado, deixa de ser kantiano(a) e coperniquiano(a), deixa de girar o mundo em volta de si e achar que todos os problemas que te acontecem são causados pelas intempéries do funcionamento psiquico dos outros e considere honestamente a possibilidade de voce estar fazendo alguma coisa que te leva inevitávelmente a um desfecho desagradável]