O Sustentáculo do Bem
Por Bem e Mal entenderei, para os fins aqui propostos, aquilo que o senso comum entende amplamente por ambos; a saber, que o Bem é o que é genericamente agradável e o Mal, aquilo que é genericamente desagradável.
A distinção da metafísica platônica (que de forma alguma se restringe a sua filosofia, mas, pelo contrário, parece-me tão freqüente que suspeito de sua inerência intrínseca a filosofia) considera o Mal como carente de Ser, Inexistente em si mesmo, por ser na verdade ausência de Bem. Não há substantia do mal.
Não seguirei esta tradição aqui embora compartilhemos as mesmas conclusões a este respeito, como, por exemplo, em Hanna Arendt.
Em termos objetivos, ainda que careçam de Ser, nos parece óbvio que as ações desagradáveis são múltiplas e freqüentes no convívio social do gênero humano; por isto, justamente, doutrina-se moralmente cada individuo: dotando-o de superegos fantásticos que estorvam a prática do mal na sociedade.
Até aí, nada de novo.
Um indivíduo ingênuo, porém, observador, poderia objetar “bom, aparentemente, não está funcionando!”.
Isto ocorre porque ao longo de séculos de superego, a humanidade desenvolveu notável capacidade de esconder de si mesma o mal inexorável de suas próprias ações, seja através de negação, de argumentação, ou ainda do tentador recurso de salvação pelo sofrimento, no qual o praticamente de determinado mal particular protesta sobre o quanto sofreu em tal prática, intentando assim a redenção.
Enfim, seja como for, o fato é que é perfeitamente possível esconder de si mesmo o mal praticado. Porque parece, até aos olhos do mais cético observador, que o mal jamais é praticado intencionalmente, a menos que seja um mal particular com vista em um determinado bem (prejudicar outro em benefício próprio, por exemplo).
Atuando como sustentáculo do Bem, portanto, nos resta somente o pensar. Através da atividade reflexiva, torna-se muito mais difícil que não se perceba o mal cometido.
Não é, infelizmente, qualquer atividade da faculdade reflexiva que chamo aqui de pensar; já que o pensar vulgar torna-se somente mais um instrumento de reiteração da tentativa de esconder de si mesmo o mal praticado. É através do pensar imbuído do eros filosófico, num processo árduo que envolve frequentemente o confronto com a sua própria imagem de si mesmo de forma dolorosa, que se consegue entrar em contato com o Bem ou o Mal de sua ação individual.
Como isto é muito mais difícil, o caminho natural foi o do excesso de repressão, sempre intensificada na tentativa de evitar a mais frequente prática do mal, quando na verdade isto só resulta em menos pensar, porque quanto mais rígido um código moral, maior a necessidade do individuo de esconder de si mesmo as próprias ações e, consequentemente, maior sua chance de estar apto a praticar o mal involuntariamente.
A distinção da metafísica platônica (que de forma alguma se restringe a sua filosofia, mas, pelo contrário, parece-me tão freqüente que suspeito de sua inerência intrínseca a filosofia) considera o Mal como carente de Ser, Inexistente em si mesmo, por ser na verdade ausência de Bem. Não há substantia do mal.
Não seguirei esta tradição aqui embora compartilhemos as mesmas conclusões a este respeito, como, por exemplo, em Hanna Arendt.
Em termos objetivos, ainda que careçam de Ser, nos parece óbvio que as ações desagradáveis são múltiplas e freqüentes no convívio social do gênero humano; por isto, justamente, doutrina-se moralmente cada individuo: dotando-o de superegos fantásticos que estorvam a prática do mal na sociedade.
Até aí, nada de novo.
Um indivíduo ingênuo, porém, observador, poderia objetar “bom, aparentemente, não está funcionando!”.
Isto ocorre porque ao longo de séculos de superego, a humanidade desenvolveu notável capacidade de esconder de si mesma o mal inexorável de suas próprias ações, seja através de negação, de argumentação, ou ainda do tentador recurso de salvação pelo sofrimento, no qual o praticamente de determinado mal particular protesta sobre o quanto sofreu em tal prática, intentando assim a redenção.
Enfim, seja como for, o fato é que é perfeitamente possível esconder de si mesmo o mal praticado. Porque parece, até aos olhos do mais cético observador, que o mal jamais é praticado intencionalmente, a menos que seja um mal particular com vista em um determinado bem (prejudicar outro em benefício próprio, por exemplo).
Atuando como sustentáculo do Bem, portanto, nos resta somente o pensar. Através da atividade reflexiva, torna-se muito mais difícil que não se perceba o mal cometido.
Não é, infelizmente, qualquer atividade da faculdade reflexiva que chamo aqui de pensar; já que o pensar vulgar torna-se somente mais um instrumento de reiteração da tentativa de esconder de si mesmo o mal praticado. É através do pensar imbuído do eros filosófico, num processo árduo que envolve frequentemente o confronto com a sua própria imagem de si mesmo de forma dolorosa, que se consegue entrar em contato com o Bem ou o Mal de sua ação individual.
Como isto é muito mais difícil, o caminho natural foi o do excesso de repressão, sempre intensificada na tentativa de evitar a mais frequente prática do mal, quando na verdade isto só resulta em menos pensar, porque quanto mais rígido um código moral, maior a necessidade do individuo de esconder de si mesmo as próprias ações e, consequentemente, maior sua chance de estar apto a praticar o mal involuntariamente.