Dysfemismo

Sunday, July 09, 2006

Prefácio Obrigatório Razoavelmente Interessante

É extremamente desagradável escrever sobre qualquer assunto que seja em uma época agraciada pelas mais irrefutáveis provas científicas, que provam, comprovam, des-provam, reprovam, sub-provam, sobre-provam, ante-provam, pós-provam tudo. Consequentemente, não há nada que já não tenha sido cientificamente provado e cientificamente contra-provado (o que seria uma absoluta incoerência lógica, já que algo provado é necessariamente impossível de ser contra-provado, porque é absolutamente correto – pois caso contrário, o que diferencia uma comprovação de uma opinião?... e é esse o ponto).
E então me lamento profundamente sobre a impossibilidade de escrever uma vulgar e ordinária reflexão – afinal de contas, o que é a reflexão frente à comprovação científica? O que são palavras, quando confrontadas pela prova científica? O que é a lógica contra uma prova científica? Afinal, o que pode contra uma prova científica? Obviamente, somente outra prova científica, que a des-prova.
Ora, se tudo aquilo que pode ser provado pode ser contra-provado, chego a óbvia e anômala conclusão de que a ciência não passa de uma ficção oficializada; um conjunto de invenções razoavelmente convincentes que, segundo o cânone cientifico vigente, foram aceitas no livro sagrado de explicações satisfatórias dessa religião bizarra. E, portanto, é vão meu saudosístico lamento: “bem que eu poderia ter nascido nos bons tempos em que qualquer um poderia filosofar suas mais medonhas elucubrações impunemente, sem que um – se não muitos – imbecil lhe esfregasse uma página de revista semanal na cara, contendo estatísticas, ‘Ph.D’s e “fatos” contra sua magnífica reflexão”. É vão, eu dizia, porque na semana seguinte eu poderia lhe retribuir o favor, se fosse também um assinante de revistas de publicação em massa.
O ponto é: isento-me aqui de qualquer possível responsabilidade sobre os potenciais desrespeitos, ao cânone cientifico da ficção oficial, que eu cometerei. Todo o medo que eu tinha de expor minhas teorizações estapafúrdias frente às infinitas comprovações cientificas caiu por terra.
Na prática, é o seguinte: a única coisa que difere o “filósofo de buteco” de um cientista é o carimbo do papa, o selo da rainha – a palavra “oficial” está escrito na testa deste, e, daquele, não; Este possui provas. Possui a verdade. E, portanto, tudo o que eu lhes apresentar aqui pode ser perfeitamente concebido como "filosofia de buteco" (já que não é condecorado com nenhuma das insígnias canônicas; além do mais, não estou nem um pouco interessado em provar absolutamente nada). Minha única relutância em atribuir esta alcunha a meus proprios textos é a má fama que carregam os famigerados e incompetentes expoentes da filosofia de buteco de nossos tempos.

E eu, particularmente, levaria em conta que meus textos são tão refutáveis quanto o “pudim de passas” do Thomson, a gravitação universal de Newton, as estatísticas raciais brasileiras, a filosofia platônica, a psicanálise do Freud, a Bíblia (o ex-cânone da ficção oficial européia há uns dois ou três séculos atrás) ou absolutamente qualquer outra coisa que seja ou tenha sido irrefutavelmente comprovada.

9 Comments:

  • É. Mas,na verdade, a julgar pelo que eu lí, o proprio Newton nao afirmava a existencia da gravidade. Ele só adimitu ter criado variaveis que correspondiam ao processo que ele observava e que permitiam reproduzi-lo e preve-lo matematicamente.. Nao que exista a gravidade ou qualquer coisa assim, é só um modelo .

    "As coisas caem porque deus quer" também é um modelo válido e irrefutável, mas ele é muito mais chato de acreditar do que a teoria do newton, porque nao permite prever porra nenhuma.
    Por isso boa parte das pessoas acredita na gravidade.
    Por outro lado, é muito chato pensar que voce morre e ponto final. Por isso as pessoas acreditam nos mais diversos modelos de vida após a morte, negando a veracidade da mesma ciencia a quem elas confiam suas vidas todos os dias nos predios, carros, avioes, chuveiros elétricos e liquidificadores.

    By Blogger Dr. Voldo, At 7:47 PM  

  • meus comentários tão ficando maiores que os posts...

    isso é que dá ser sucinto demais no post...

    By Blogger Dr. Voldo, At 1:47 PM  

  • Depois desse texto eu posso parar de ir na faculdade. hehe
    E acrrditar que sou uma ilha.. haha

    By Anonymous Anonymous, At 2:02 PM  

  • Humm.... sim os paradigmas.
    Rô... como você disse, as palavras não são nada diante das provas científicas, entretanto as provas científicas são comprovadas a partir de um resultado que concorda com os padrões e pensamentos de uma época, diante do que se tem nas mãos no dado momento. Mas, você já deve saber que o se tem nas mãos não é sempre a verdade. É o máximo da verdade que pode ser atingida pelas pessoas que a buscam. É quando permeamos, tangemos aquilo que se denomina "verdade absoluta"...que eu particularmente acredito na existência (mas isso é outro papo)...mas como é apenas periférico não podemos afirmar nada, pontuar e nem decretar nada, já que estamos a milhas e milhas distantes daquilo que pode ser verdadeiro(sejamos humildes não pelo prazer de sê-lo, mas por termos a consciência de que estamos de fato muito distantes) Portanto não tenhamos medo de criar modelos e estruturas para tentar entender esse mundo, mas uma coisa é certa....chega de acreditar nas coisas ao pé da letra e de tomar as alegorias atribuídas às coisas como reais. Fora isso, apoio-te totalmente na decisão de escrever aquilo que desejares, até porque o faz extremamente bem.

    By Anonymous Anonymous, At 2:34 PM  

  • Quando falei que palavras não sao nada diante de provas cientificas eu estava sendo ironico!
    na verdade voce concordou com tudo o que eu falei, só nao percebeu =P

    E obrigado!

    By Blogger Dr. Voldo, At 2:45 PM  

  • Poizé, esse é o grande problema com o pensamento exclusivo, de 'é assim e só assim', 'minha religiao é a certa', 'é isso e nao aquilo'. Do jeito que eu vejo, existem diversos caminhos funcionais. A ciência é um deles, enquanto do outro lado nós temos o xamanismo. Pessoalmente, eu levo mais a sério os caminhos que admitem nao ser a unica possibilidade.

    By Anonymous Anonymous, At 9:45 PM  

  • Seu texto me fez lembrar de um programa que vi uma vez sobre o Santo Sudário, em uma determinada época alguém provou que era falso, logo depois, veio a contra-prova tornando-o verdadeiro, logo depois alguém provou que era falso novamente, logo depois alguém provou novamente que era verdadeiro, depois provaram que era falso.... e assim continuou... Até hoje não sei onde parou isso, acho que não parou. Mas enquanto isso, as "pessoas normais" sem essa capacidade de provar e desprovar, meros espectadores, pouco se importavam com o que era provado e desprovado. Quem desde o começo achou que o sudário era verdadeiro, não deixou de acreditar nisso ao provarem que era falso e quem desde o princípio acreditou ser falso, não mudou de opinião cada vez que a ciência dizia que tinha provado que era algo verdadeiro.
    Então, já que vc falou que com essas provas e contra-provas a ciência não passa de uma ficção, eu vou além... Eu diria que é uma "ficção" com a qual as pessoas não se interessam muito se não lhes convêm.
    O ser humano é tão burro que faz as coisas ao contrário, procura as provas baseado no que ele quer acreditar (burro e egocêntrico), ou seja, prova porque acredita, quando na realidade deveria acreditar porque existe a prova.

    By Anonymous Anonymous, At 2:25 PM  

  • Vc não tava postando outro texto?!

    Nha!
    Cansei de ler esse!

    hunf!
    =P

    By Anonymous Anonymous, At 5:18 AM  

  • Glaura querida

    Eu ainda te amo muito e olhe que já faz uns bons anos e nem foi pela genética.
    Te disse isso ontem e te repito hoje, sem precisar jurar. Sem peso algum, entende?
    As juras conferem um pseudo "certificado de garantia"..

    ZAN

    By Anonymous Anonymous, At 2:11 AM  

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