A Teoria dos Modelos Teóricos
Não é que exista uma “verdade” ou alguma espécie de elemento cuja realidade formal é superior à soma das realidades objetivas de todos os outros elementos que compõem o universo. O fato é que as coisas existem, não necessariamente com E maiúsculo, e não necessariamente além do nosso universo perceptivo, porque isso não importa. O que importa é que independentemente de que explicação nós formulamos para as coisas, elas não podem corresponder perfeitamente a qualquer coisa que vá além de nosso universo perceptivo.
Os modelos explicativos para cada realidade complexa não são um melhor ou pior do que o outro porque um está certo e outro errado; eles diferem nos aspectos que conseguem captar da realidade que é de explicação complexa demais para um modelo de entendimento simples. Cada modelo consegue se aproximar da realidade, mas jamais capta-la em sua totalidade, pois não temos nem a capacidade léxica e muito menos a potência intelectual para abarcar a totalidade da realidade em nosso único e falível meio de comunicação [e raciocínio] conhecido (a saber, o logos).
A diferença entre um modelo e outro é, na verdade, muito mais uma questão de coesão interna do que de correspondência externa; em primeiro lugar porque a Realidade e a Verdade, se existem, estão muito além de nossa capacidade perceptiva; em segundo lugar, porque quando um modelo consegue uma coerência máxima entre os elementos que o compõem, torna-se auto-explicativo e auto-suficiente, sendo impossível refutá-lo tecnicamente, mas apenas discordar dele (por questões psíquicas de incompatibilidade ou negação).
Posso utilizar como exemplo as mais óbvias noções religiosas: o cristianismo, o budismo ou o monoteísmo platônico tem muitas semelhanças, embora utilizem metáforas diferentes. Os três contêm muitos semelhantes aspectos da realidade, mas seu corpo teórico-estrutural difere devido aos diferentes contextos em que estão inseridos.
Mas então podemos discutir algumas questões; algumas “licenças teóricas” que os corpos religiosos tiram, porque seria extremamente difícil passar o aspecto que eles desejam passar sem afetar a coerência interna do corpo teórico; certas coisas, para que sejam explicadas mantendo a perfeita coerência interna da formulação, necessitam uma complexidade que seria inalcançável para aqueles a quem se destina a própria formulação; por isso, licenças teóricas são tiradas. Um bom exemplo é a ressurreição Jesus Cristo na exata forma em que ela nos é legada pelos evangelhos. Discutir as incoerências desse elemento me tomaria parágrafos e mais parágrafos de texto, e, portanto não entrarei na questão. O importante é que apesar de uma das partes mais indispensáveis da teoria, a complexidade que exigiria transmitir esse elemento do corpo teórico com perfeita coesão interna tornaria impossível sua compreensão para uma boa parte da população a quem se destinava a própria religião.
Os problemas de coerência interna são também, às vezes, fruto da incapacidade daquele que formulou a teoria, embora eu, particularmente, acredite que, em geral, o que leva um modelo teórico a apresentar falhas seja o fato de que aqueles que o formulam dão mais importância à mensagem que desejam passar do que à perfeição de seu modelo em termos estruturais. O resultado disso é que a mensagem é passada, mas muitos erros são encontrados.
A ciência é um dos poucos corpos teóricos que, ao invés de focalizar-se na mensagem, focaliza-se na estrutura do corpo teórico. O resultado é que sua estrutura torna-se um esqueleto sem alma, que pode ser utilizado para as mais vis ou mais belas (dependendo do uso e dependendo do ponto de vista) práticas humanas.
Não existe uma teoria mais correta, mais próxima da Verdade do que outra. Se existe, não temos capacidade de dizer. Mas temos capacidade de avaliar as teorias conforme sua coerência interna, porque não podemos comprovar a invalidade de uma teoria comparando-a com a Realidade, com a Verdade, pois não a conhecemos. Podemos apenas compará-la com ela mesma, internamente, um elemento a outro. Nesse sentido, quanto menos falhas existirem na proposição, mais verdadeira ela é (embora isso não a torne de forma alguma mais Verdadeira).
Os modelos explicativos para cada realidade complexa não são um melhor ou pior do que o outro porque um está certo e outro errado; eles diferem nos aspectos que conseguem captar da realidade que é de explicação complexa demais para um modelo de entendimento simples. Cada modelo consegue se aproximar da realidade, mas jamais capta-la em sua totalidade, pois não temos nem a capacidade léxica e muito menos a potência intelectual para abarcar a totalidade da realidade em nosso único e falível meio de comunicação [e raciocínio] conhecido (a saber, o logos).
A diferença entre um modelo e outro é, na verdade, muito mais uma questão de coesão interna do que de correspondência externa; em primeiro lugar porque a Realidade e a Verdade, se existem, estão muito além de nossa capacidade perceptiva; em segundo lugar, porque quando um modelo consegue uma coerência máxima entre os elementos que o compõem, torna-se auto-explicativo e auto-suficiente, sendo impossível refutá-lo tecnicamente, mas apenas discordar dele (por questões psíquicas de incompatibilidade ou negação).
Posso utilizar como exemplo as mais óbvias noções religiosas: o cristianismo, o budismo ou o monoteísmo platônico tem muitas semelhanças, embora utilizem metáforas diferentes. Os três contêm muitos semelhantes aspectos da realidade, mas seu corpo teórico-estrutural difere devido aos diferentes contextos em que estão inseridos.
Mas então podemos discutir algumas questões; algumas “licenças teóricas” que os corpos religiosos tiram, porque seria extremamente difícil passar o aspecto que eles desejam passar sem afetar a coerência interna do corpo teórico; certas coisas, para que sejam explicadas mantendo a perfeita coerência interna da formulação, necessitam uma complexidade que seria inalcançável para aqueles a quem se destina a própria formulação; por isso, licenças teóricas são tiradas. Um bom exemplo é a ressurreição Jesus Cristo na exata forma em que ela nos é legada pelos evangelhos. Discutir as incoerências desse elemento me tomaria parágrafos e mais parágrafos de texto, e, portanto não entrarei na questão. O importante é que apesar de uma das partes mais indispensáveis da teoria, a complexidade que exigiria transmitir esse elemento do corpo teórico com perfeita coesão interna tornaria impossível sua compreensão para uma boa parte da população a quem se destinava a própria religião.
Os problemas de coerência interna são também, às vezes, fruto da incapacidade daquele que formulou a teoria, embora eu, particularmente, acredite que, em geral, o que leva um modelo teórico a apresentar falhas seja o fato de que aqueles que o formulam dão mais importância à mensagem que desejam passar do que à perfeição de seu modelo em termos estruturais. O resultado disso é que a mensagem é passada, mas muitos erros são encontrados.
A ciência é um dos poucos corpos teóricos que, ao invés de focalizar-se na mensagem, focaliza-se na estrutura do corpo teórico. O resultado é que sua estrutura torna-se um esqueleto sem alma, que pode ser utilizado para as mais vis ou mais belas (dependendo do uso e dependendo do ponto de vista) práticas humanas.
Não existe uma teoria mais correta, mais próxima da Verdade do que outra. Se existe, não temos capacidade de dizer. Mas temos capacidade de avaliar as teorias conforme sua coerência interna, porque não podemos comprovar a invalidade de uma teoria comparando-a com a Realidade, com a Verdade, pois não a conhecemos. Podemos apenas compará-la com ela mesma, internamente, um elemento a outro. Nesse sentido, quanto menos falhas existirem na proposição, mais verdadeira ela é (embora isso não a torne de forma alguma mais Verdadeira).
11 Comments:
Tinha um pessoal almoçando no América noutro dia conversando exatamente sobre isso, embora exatamente seja uma palavra muito forte para descrever o que de verdade acontecia naquela mesa, Verdade esta que desconhecemos e, portanto, me questiono se aquela cebola empanada era mesmo uma cebola ...
By Flavio Ferrari, At 8:44 AM
Seja qual for a Verdade, tente uma foto sua que corresponda um pouco mais proximamente à Realidade...
Embora haja muitas maneiras de refutar minha verdade, poderia comprovar cientificamente que a correspondência entre a imagem apresentada e o apresentado leva aqueles que a vem a uma impressão tendenciosa e sem amplitude do objeto em questão.
Flexibilizar, mesmo em relação a nossa auto imagem, pode ser algo poderoso, intrigante e, porque não dizer, até prazeroso...
Com carinho e admiração
By Anonymous, At 12:00 PM
imagem nao eh nada
texto eh tudo
By Anonymous, At 3:39 PM
E o que valem os fatos diante da força dos argumentos °
By Flavio Ferrari, At 2:20 PM
Será que alguma coisa pode ser tudo?
By Anonymous, At 5:25 PM
Claro que alguma coisa pode ser tudo.
Se tudo existe, ele mesmo é tudo.
Fora isso, nada pode ser tudo justamente porque, obviamente, somente tudo é tudo.
By Dr. Voldo, At 9:34 PM
De acordo, eu te disse inclusive uma vez que eu acreditava mais nas suas explicações p/ o meu funcionamento pq elas faziam mais sentido (tinham maior coerência interna).
Se não me engano tem um texto do Fustel de Coulanges que trata disso, não vou procurar agora pq tou com febre por causa da suposta infecção no local da cirurgia e foi dificultoso até ler
By Anonymous, At 11:13 AM
Hum... interessante. O Flávio ali em cima (Seu irmão por acaso?)disse que um pessoal no América discutia sobre isso um dia desses. Engraçado que eu e meus amigos também tivemos uma discussão muitíssimo semelhante um dia desses, obviamente não no América, até porque não tem América em Sorocaba. A questão é a mesma sempre, vai e vem caímos na mesma história. Cada uma defende seus pontos de vista, cada um tem suas razões e certezas, mas todos temos falhas...mas e aí como é que fica a Verdade?
Por estarmos mergulhados na realidade acho eu que nunca poderemos afirmar qualquer coisa com precisão, a menos que nos afastemos até atingirmos um nível tão alto de distanciamento do mundo, quando pudermos olhar tudo de cima, sem pré conceitos, sem ideologias, sem convenções, sem nada (aí corremos o risco de perder nossa própria personalidade, mas acho que por um bom motivo), então quando estivermos suficientemente desprendidos de tudo isso, poderemos opinar com mais pureza, com mais sensatez. Talvez isso ainda seja inviável para nós, já que somos tão orgulhosos a ponto de achar que a nossa educação, supostamente bem vista, seja o bastante para nos dar discernimento para as coisas.
Bem....chega. O fato é que quanto mais eu aprendo, mas eu vejo que não sei...
E isso é tão simples.
By Anonymous, At 7:45 AM
Gostei da sua explicação:
No que se refere aos exemplos, as noções do Cristianismo, foram profundas, embora esteja certo de que o modelo teórico apresentado esteja dentro das situações que acaba de expor,os exemplos foram extremamente aceitos entre o que cada uma apresenta de verdade, sendo como modelo teórico uma vaga direção para a verdade que difere um do outro, é mais do que uma questão de coesão interna que externa, pode ser externa, mas interna são incompatíveis do ponto de vista de uma verdade, quando na esfera religiosidade ou quando se aborda as noções de religiosidade o Cristianismo tem suas evidências no Cristo da Ressurreição, mas o budismo tem suas características fundamentais fixadas no comportamento humano e na perfeição do seu líder exemplar, é uma contradição na comparação do Modelo teórico.
Não estou detonando sua perfeita sintonia de explicação que acredito ter sido bem elaborada, olhando pelo ângulo de visão das noções de religiosidade, estou afirmando como correspondência externa, onde internamente o Cristianismo significa que os seguidores são de Jesus Cristo e o Budismo são seguidores de Buda. Conceitos diferentes.
By Pita Siqueira, At 12:18 PM
Gostei da sua explicação:
No que se refere aos exemplos, as noções do Cristianismo, foram profundas, embora esteja certo de que o modelo teórico apresentado esteja dentro das situações que acaba de expor,os exemplos foram extremamente aceitos entre o que cada uma apresenta de verdade, sendo como modelo teórico uma vaga direção para a verdade que difere um do outro, é mais do que uma questão de coesão interna que externa, pode ser externa, mas interna são incompatíveis do ponto de vista de uma verdade, quando na esfera religiosidade ou quando se aborda as noções de religiosidade o Cristianismo tem suas evidências no Cristo da Ressurreição, mas o budismo tem suas características fundamentais fixadas no comportamento humano e na perfeição do seu líder exemplar, é uma contradição na comparação do Modelo teórico.
Não estou detonando sua perfeita sintonia de explicação que acredito ter sido bem elaborada, olhando pelo ângulo de visão das noções de religiosidade, estou afirmando como correspondência externa, onde internamente o Cristianismo significa que os seguidores são de Jesus Cristo e o Budismo são seguidores de Buda. Conceitos diferentes.
By Anonymous, At 12:21 PM
A realidade difere-se da verdade. Aquela se manifesta em tudo que existe ou acontece. Esta, na interpretação que nossa mente elabora sobre a realidade percebida (olhar, paladar, olfato, tato e audição) por nós.
Assim, o que existe (ser), ou acontece (fato), constituir-se-á em potência ou ato, na medida em que será ou foi transformado, independente da percepção humana. Já a verdade, por decorrer de atividade mental subsequente à percepção, revela-se subjetiva e, portanto, produto do binômio causa e efeito,cuja abstração demandará, como regra, de variáveis intervenientes vinculadas a aspectos físico-psicossociais como patologias, cultura, educação, grau de escolaridade,emoções. Sintetizando: enquanto a realidade é única, a verdade varia com o indivíduo que faz a abstração.
By Márcio Ama, At 6:05 PM
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